segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Especial Vitor Martins: Um milhão de finais felizes + Quinze dias | Canal do Fleur


Vitor Martins é autor e ilustrador, e eu conheci o trabalho dele há uns dois anos através do Youtube, onde ele produzia conteúdo literário. Sempre gostei da forma como ele se expressava e dos livros que indicava, e os meus vídeos favoritos eram os vlogs de escrita onde ele mostrava os processos de criação das histórias dele, que vieram a se tornar livros. Eu já encontrei o Vitor pessoalmente duas vezes, uma no lançamento do seu primeiro livro, “Quinze Dias”, na Bienal do Livro do Rio, em 2017, e outra também no lançamento do segundo romance, “Um Milhão de Finais Felizes”, no ano passado, na Bienal de São Paulo. E são essas leituras que eu quero indicar para você hoje! Vem comigo!


Em “Quinze Dias”, lançado em 2017 pela Globo Alt, somos apresentados a Felipe, um jovem que enfrenta um árduo dia a dia na escola.  Não que o período do ensino médio seja realmente fácil para alguém, mas, para ele, que é gordo e homossexual, as horas entre os colegas – que cometem inúmeros abusos – são uma verdadeira prova de resistência.  Mas com as férias de julho chegando, ele finalmente vai poder passar um tempo longe dessa realidade, e pretende se afundar completamente em maratonas de séries, livros e tutoriais do Youtube. Só que toda a programação vai por água à baixo quando sua mãe avisa, mais do que em cima da hora, que eles vão ter como hóspede o Caio, o vizinho que, por um acaso, é sua primeira paixão de infância.  As chances de tudo dar errado são enormes, principalmente por conta das inseguranças de Felipe, que, além de não se sentir bem consigo mesmo, não faz ideia de como vai interagir com o vizinho durante os próximos quinze dias. Ele vai ter que modificar sua rotina, lidar com as questões mal resolvidas e com a reviravolta que a presença de Caio vai causar na forma como ele percebe o mundo e a si mesmo. “Quinze Dias” é uma narrativa que eu adoro principalmente por conta da representatividade que carrega. Vivemos em uma sociedade repleta de preconceitos, e colocar em pauta questões como a homofobia e a gordofobia é um passo imprescindível para a discussão e a consequente mudança.


“Um Milhão de Finais Felizes”, lançado em 2018, também se propõe a fugir da zona de conforto de grande parte da sociedade, levantando temáticas que precisam e muito serem discutidas, em especial pautas que dizem respeito à comunidade LGBTQIA+. O Brasil é um dos países com o maior índice de morte de pessoas pertencentes a esta comunidade no mundo, e, tema da Parada LGBT de São Paulo em 2017, o fundamentalismo religioso e a intolerância são itens marcantes na lista de dificuldades enfrentadas em especial pelos homossexuais e transexuais, e na maioria esmagadora dos casos, dentro de sua própria casa e pela própria família. Com isso em mente, é compreensível imaginar que um enredo que trouxesse essa temática seria doloroso de ser lido, mas, em “Um Milhão de Finais Felizes”, o autor Vitor Martins dá seu recado ao abordar a realidade sem deixar de lado o flerte com a fantasia.  Na trama, acompanhamos a rotina de Jonas, um jovem gay de dezenove anos que, após concluir o Ensino Médio, está completamente sem perspectivas em relação ao futuro.  Ele trabalha em uma cafeteria para ajudar nas contas da casa, mas o que gostaria mesmo é de ser escritor.

Em constante conflito consigo mesmo, Jonas não sabe como revelar aos pais sua sexualidade, já que acumula motivos que o levam a acreditar que nenhum dos dois irá aprovar: sua mãe é extremamente religiosa, enquanto o pai é intolerante e abusivo.  Vivendo todos os dias em uma espécie de limbo, ele precisa encontrar uma forma de se libertar desta exaustiva dinâmica, onde se sente constantemente culpado, deslocado e amedrontado. As coisas começam a mudar quando ele conhece um rapaz muito singular, que, além de despertar seu interesse, ainda se transforma em inspiração para sua primeira história de verdade. O livro acumula muitos pontos fortes, com destaque para as maravilhosas referências à cultura pop, a construção impecável dos personagens, o ar realista e extremamente emocionante, o gostinho de comédia romântica proporcionado por inúmeras passagens, e também a abordagem mais do que sensível à dinâmica complexa dos relacionamentos. É essencialmente uma história sobre a família, mas não apenas aquela na qual nascemos, mas principalmente a que escolhemos.


E é isso, esse foi o especial sobre os livros do Vitor Martins e eu espero que você tenha gostado! Ah, e se você tem alguma sugestão, ou quer pedir ou fazer uma indicação de livro, filme, série ou quadrinho, deixa aqui nos comentários! Tchau!

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