Resenha: Garota Exemplar

“Quando viramos a esquina, uma padaria está recebendo um carregamento de açúcar a granel, levando-o para o porão como se fosse cimento, e não conseguimos ver nada além das silhuetas dos entregadores na nuvem branca e doce. A rua está tomada, Nick me puxa para perto e abre aquele sorriso novamente, pega um único cacho dos meus cabelos entre dois dedos e os desliza até a ponta, puxando duas vezes, como se tocasse um sino. Seus cílios estão cobertos de açúcar, e antes de se inclinar ele limpa o açúcar dos meus lábios para poder sentir meu gosto”. 

       A cada ano, Amy Elliot preparava uma espécie de caça ao tesouro, algo especial entre ela e seu marido, algo que o levaria a uma surpresa que não pudesse imaginar. Mas Amy desapareceu. Bem na manhã de seu quinto aniversário de casamento, a linda e inteligente esposa de Nick Dunne simplesmente desapareceu de sua casa às margens do Rio Mississippi. A casa está revirada, e tudo parece indicar se tratar de um seqüestro, um crime violento. Mas, será mesmo? 

Título: Garota Exemplar (Gone Girl).

Autor: Gillian Flynn.

Páginas: 448 páginas.

Editora: Intrínseca.

ISBN: 978-85-8057-605-4.

“Comecei a correr, berrando seu nome. Atravessei a cozinha, onde uma chaleira queimava, desci para o porão, cujo quarto de hóspedes estava vazio, e então saí pela porta dos fundos. Atravessei correndo nosso quintal até o estreito cais de barcos que se projetava sobre o rio (...). Ela não estava na água, ela não estava em casa. Amy não estava ali. Amy havia sumido”.

      Pressionado pela polícia e, principalmente, pela opinião pública, exibindo uma estranha calma e contando uma história bem diferente da relatada por Amy em seu diário, que revela uma garota perfeccionista capaz de levar qualquer um ao limite, Nick parece cada dia mais culpado, embora insista em sua inocência. O que afinal teria acontecido com Amy Dunne? Uma coisa é certa: a verdade não é bem o forte do casal. Alternando entre os pontos de vista de Nick e Amy, Garota Exemplar expõe o retrato cruel de como mentiras podem construir um relacionamento. E também destruí-lo. 

“Amy estava crescendo em minha mente. Ela estava desaparecida, e, no entanto estava mais presente do que qualquer outra pessoa. Eu me apaixonara por Amy porque eu era um Nick aperfeiçoado com ela. Amá-la me tornava sobre-humano, fazia com que me sentisse vivo. Mesmo no seu momento mais fácil, ela era difícil, porque seu cérebro estava sempre trabalhando, trabalhando, trabalhando – eu tinha de me superar para acompanhá-la”.

Algumas Impressões

       Eu mudei muito de opinião enquanto lia este livro. Claro que ele foi maravilhoso desde o começo, com um suspense psicológico intrincadamente (bem) construído, que me envolveu e me fez querer saber cada vez mais sobre a história. O enredo tem diversas reviravoltas, e, à medida que novos fatos vêm à tona, o leitor pode decidir “de que lado está”, ou melhor, no que acredita. Se é que se pode mesmo acreditar em alguma coisa. É principalmente sobre um casamento arruinado, construído sobre mentiras, muitas delas. Um livro realmente fantástico, mas um tanto assustador, sobre como a normalidade e o sombrio podem se entrelaçar á ponto de não ser mais possível separá-los – e como tudo isso pode caber perfeitamente em uma relação. É muito difícil falar sobre o livro e sua história sem dar spoiler. Sabe aquele livro que meche com você, te leva a reflexões e pensamentos acerca e que você precisa falar sobre ele com alguém? Eu gostaria que todos vocês já tivessem conhecimento da história para que pudéssemos discutir as teorias que surgem ao longo da leitura e os pequenos detalhes que fazem toda a diferença no desfecho. Então amigos, fica a dica: leiam, pois, aliando a dose certa de humor perspicaz, uma narrativa eletrizante e uma atmosfera de dúvidas, Gillian Flynn escreveu um dos melhores títulos que já tive a oportunidade de ler.

Sobre a Intrínseca

Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.