sábado, 2 de janeiro de 2016

Crônica: A primeira sobre Ele

Imagem retirada do Tumblr.

     As vezes parece que, por mais que eu caminhe, não estou chegando a lugar algum. Confesso que esta é uma declaração e tanto para o início de um novo ano, com todos os seus dias ainda por serem vividos, teoricamente cheios de chances, escolhas e possibilidades. Por várias vezes prometi que abandonaria os velhos hábitos, que deixaria de lado as coisas que me puxam como âncoras rumo ao fundo do mar. Que dançaria mais, amaria mais, que me estressaria e preocuparia menos, daria sorrisos demorados, escutaria conselhos dados por aqueles que só querem o meu bem e ajudaria os que amo no que fosse possível. Que viveria alguns clichês se fosse necessário, e também que colocaria em palavras a profusão de ideias que na maioria das vezes acabam se perdendo, sem a oportunidade de se tornarem conhecidas. Mas, de todas as famigeradas metas que teimo em estabelecer ano após ano, justamente a de escrever é deixada para trás nesta mesma frequência. Os anos se passam e o medo da folha em branco permanece. Começo a dizer algo, mas tão logo as poucas palavras me encaram, inquisidoras, temendo a impossibilidade de uma continuação. Os questionamentos vem aos montes. Falar (tentar) sobre um assunto ou outro? Tomar este caminho ou aquele? Escolher isto ou aquilo? A verdade é que somos extremamente complexos. Como colocar no papel algo que não está claro dentro de si mesmo? 

"Não tenho um alguém para quem escrever, em quem pensar ou pelo qual sofrer. Não tenho o drama de quem perdeu ou a felicidade de quem encontrou. Possuo a paciência empregada na espera, o ato de ser e esperar um alguém. E apesar dos poréns, tenho sim um amor. Apenas não o encontrei." Dizem que amor não correspondido causa dor. Digam-me então, e para amor não encontrado, qual o sintoma? Lettícia Gabriella (Mal-Escrito)
    
       Um pensamento frequentemente me ocorria: "talvez eu deva tentar falar sobre o amor outra vez". Mas este, tão logo como surgia, ia embora, e a possibilidade era esquecida de pronto. Tentei em vão por muito tempo e não mais podia suportar (como já diria Mr. Darcy), falar sobre algo que não compreendia. Pelo menos não totalmente, em todas as suas formas e possibilidades. Houve uma época em que fazia dele a principal temática de meus textos (tenho um tumblr cheio deles). Elaborava explicações demoradas, dedicava os melhores versos que conseguia criar, direcionava a ele toda a criatividade, simplicidade e delicadeza nas quais a mente conseguia pensar na tentativa de refletir o que o coração estava - ou pensava estar - sentindo. Queria encantá-lo, fazer-me presente por meio das palavras, chamar sua atenção de forma que ele atendesse meus mais profundos desejos. Mas os chamados não eram respondidos, e, com isto, vinham as invenções que ludibriavam a fim de me manter onde estava, presa às ilusões criadas. Era um trabalho em vão, mas as palavras fluíam de uma forma que até hoje não sei explicar. Ele me encantava e inspirava, assoprava e mordia, alegrava e entristecia. Com ele viver era um extremo, e sem ele, apenas o vazio (não dizem por ai que, sem amor, nada somos?). Mas, se ele não estava no outro, onde mais poderia estar? 

"Em meus raros momentos de inspiração, escrevo sempre sobre você. Por mais clichê que possa sair o verso, nenhum outro assunto me vem à tona. Você obstrui minha visão, bloqueia todos os sentidos. É como uma névoa, que quando está por perto nada me deixa ver, e que quando se afasta permite que eu pense com clareza. Vivo entre extremos, sonhos e devaneios, aguardando o momento em que você chega e vai embora, mas nunca me leva. Não decide se vai ficar, mas nunca me deixa ir." Devaneios em um fundo clichê, Lettícia Gabriella (Mal-Escrito) 
     
     Quem dera eu soubesse naquela época. Ha, e aqui estou eu falando sobre ele novamente. Por isto digo que, por mais que eu caminhe, parece não estou chegando a lugar nenhum. E que, por mais que eu escreva, a folha sempre permanece em branco. O assunto recorrente me cega e me limita, mas, a seu próprio modo, também me direciona. Demorei tempo demais para reconhecer que ele sempre esteve aqui. O primeiro dele deve partir de mim para eu mesma. Tenho que me amar. Parar de buscar incessantemente no outro algo que sempre esteve e que sempre vai estar comigo. A solidão nos leva a criar um escape, uma cela para nos abrigar. Nos leva a pensar que a vida depende unicamente dele,  e do momento único onde os opostos ou iguais se encontram e se completam. Mas foi com dificuldade, e depois de altos e baixos que aprendi. Por mais que o outro ainda seja desconhecido, por hora posso viver em paz. Não me falta mais um pedaço como antes pensava. O outro não me completa. Ele me transborda, complementa, agrega. Você é livre para escolher a palavra que mais lhe agradar. 

"E todo dia diz a si mesmo: Nada sinto."Numa tentativa desesperada de enganar o coração, (Mal-Escrito)

     Bom, acredito que este foi o texto mais pessoal que já publiquei no Fleur. No último ano eu prometi a mim mesma que me forçaria a escrever mais crônicas para o blog, mas como outras metas esta não foi cumprida - mais uma vez. Mas com o novo ano vem a vontade cada vez maior de colocar em prática as muitas ideias que guardo comigo, e também de quebrar algumas barreiras que eu mesma havia estabelecido. Uma delas era falar justamente sobre este tema, o amor. A verdade é que já a alguns anos mantenho um Tumblr (Mal-Escrito) que tem, em sua maioria, textos deste teor, mas há tempos o deixei de lado exatamente por conta da construção desta barreira (sempre tem aqueles momentos nos quais nos decepcionamos com o amor). Mas, nada melhor do que começar uma nova etapa quebrando algumas velhas barreiras, não é mesmo?

18 comentários:

  1. Nem sei o que falar (já escrevi isso no face).
    Você me surpreendeu da maneira mais linda que poderia ter feito. Juro que não imaginava esse teu lado na escrita de forma tão certeira.
    E que maneira linda para falar do amor próprio aquele que precisa nascer em nós, para depois encontrarmos no outro.
    Espero que você publique mais. ♥

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    1. Amor eterno por seu comentário (aqui e lá no face!) <3 <3 Eu sempre gostei de escrever, mas de uns tempos para cá não tenho me dedicado muito à isso. Ano passado eu queria ter escrito mais, mas parece que estava com uma espécie de bloqueio. Porém, com este novo ano, achei que já era hora de ultrapassar isso. Fico muito feliz que tenha gostado! O amor próprio é um aprendizado constante, e por mais que pareça uma conclusão simples, muitas pessoas demoram tempo demais para entender isso! Um beijo <3 <3 Muito obrigada <3

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  2. Aquela velha mania de estipular metas para o ano que começa e no fim deixar para trás tudo aquilo que dissemos que faríamos e, na maioria das vezes, são coisas que realmente gostaríamos de fazer mais, ou fazer pela primeira vez... mas sabe-se lá pq não o fazemos.
    Espero que neste ano vc escreva mais. Seja sobre o amor... seja sobre o tudo, ou sobre o nada. Simplesmente escreva! Se tem algo que não te falta é SENSIBILIDADE para tanto.

    Beijos!
    Fabi Carvalhais
    http://pausaparapitacos.blogspot.com.br @pausaparapitacos facebook.com/pausaparapitacos

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    1. Não é? Eu não consigo entender porque deixamos tantas coisas passarem, ou não oferecemos oportunidade a outras que poderiam nos fazer tão bem. É complicado. Mas chega aquele momento que temos que deixar as barreiras para trás, de uma forma ou de outra e cumprir as tais metas! Muito obrigada <3 <3 <3 Um beijo e feliz 2016!

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  3. Uma coisa que aprendi é que o amor não tem culpa. Nós o complicamos, o maltratamos e o fazemos ser o vilão da história, mas, na verdade, quem tira sua leveza somos nós mesmos, com incansáveis dúvidas. Escreva sim mais crônicas moça, você faz isso lindamente ♥

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    1. Pois é. Ficamos tão cheios das situações que acabamos procurando alguém pra culpar, e frequentemente é ele. E muitas vezes fazemos isso porque não o entendemos, como eu falei ai em cima. Obrigada <3 <3 Um beijo!

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  4. Que texto lindo!
    Acho que ter um momento de decepção com o amor é o que nos faz crescer, afinal, quem tem cicatriz tem história para contar.
    E se você tem história, conta mais, que sempre vai ter alguém que vai gostar! :)

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    1. Obrigada <3 Pois é, falou tudo! Eu gosto de escrever mas às vezes bate aquela falta de inspiração e até de motivação para colocar as ideias no papel. Mas fico feliz! Um beijo : *

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  5. Gente estou completamente encantada com essa crônica Lê, você me surpreendeu e acredito que se superou, está ai um talento escondido da escrita. Acho que amor próprio é tudo e infelizmente nem todos estão prontos para aceitá-lo. Que essa meta seja cumprida sempre e já estou ansiosa para o próximo, beijos flor!

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    1. Ei Lu! Muito obrigada <3 <3 A minha relação com a escrita tem sido complicada, pelo menos para crônicas. Não sei o que acontece, mas muitas vezes tenho as ideias, mas não a motivação :/ Espero escrever mais esse ano! Um beijo : *

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  6. Que lindo o texto! Realmente da para perceber o quanto é pessoal para você. Amor é um assunto que eu tenho dificuldade em desenvolver, na verdade muita coisa que diz respeito a minha pessoa eu tenho dificuldade em desenvolver, por isso fico só na ficção :v hahahaha
    Ficou lindo de mais o seu texto e já estou até te seguindo no tumblr <3

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    1. Obrigada! <3 É bem pessoal mesmo, porque também não costumo falar muito sobre o que diz respeito a minha pessoa, assim como você. É uma espécie de bloqueio, não sei KKKKKK Obrigada por gostar e seguir lá no tumblr <3 Um beijo : *

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  7. Um texto tão lindo e tão bem escrito, que me fez chorar. Você tem um talento incrível, Le, parabéns ♡. e vai ser bacana demais se você trazer mais crônicas aqui para o Fleur! Adoro textos pessoais, e quase nada é tão pessoal quanto o amor e a visão das pessoas sobre ele!

    Já estou te seguindo lá no tumblr ♡.

    Eu tenho um bloqueio criativo terrível para a escrita! Tenho um blog no qual eu escrevia algumas coisas, o infernodemartires.wordpress.com, mas está abandonado. Não sei porque, mas só consigo escrever sobre desesperanças, e como eu estou tentando ficar longe desses pensamentos, eu acabei deixando a escrita trancada. Quem sabe algum dia eu consiga escrever sobre outras coisas...

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    1. Awwwwwwwnnnnn <3 <3 <3 Sua linda! Eu tô colocando isso como meta, pelo menos uma por mês. Minha inspiração anda abalada por conta do TCC, então né. Eu tenho bloqueio para alguns assuntos mais pessoais, como esse do post mesmo, mas ultimamente até a ficção tá um pouco travada. Acho que é o estresse da proximidade da formatura, último semestre e o tal TCC. Mas enfim, vamos nos juntar em um projeto para escrever mais? Que tal? Um beijo : *

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  8. Voltei só pra expressar o meu amor pelo Tumblr. Abri a página e já dei de cara (ou de ouvidos?) com Cícero ♡. Apenas ♡.

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    1. Cícero é amor demais <3 Na época que criei essa playlist pro blog eu estava absolutamente viciada nele, e ainda estou KKKKK Mas o Tiago Iorc também tem um espaço muito grande no meu coração <3 Um beijo : *

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  9. Adorei o texto, super bem escrito e tão lindo. Pode continuar a escrever crônicas de amor que eu com certeza irei ler. Virei fã hahah
    Bjs

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    1. Obrigada <3 Eu estava com tanto receio em postar e acabou que o retorno foi super positivo! Um beijo : *

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