Resenha: Superman All Stars

“Setenta anos após ser criado e apresentado ao planeta por Joe Shuster e Jerry Siegel, Superman ganhou, em meados da década passada, uma reinterpretação surpreendente que chocou completa e positivamente o mundo das HQ’s e redefiniu todos os limites de um personagem icônico, que acreditava-se ser inalterável. Por cortesia da genial e excêntrica mente do roteirista Grant Morisson e do traço incomparável do desenhista Frank Quitely, o Homem de Aço (e seus milhares de fãs) foram presenteados com uma obra-prima sem precedentes”.

Aviso: Pode conter algum spoiler.

       All Stars (Grandes Astros, aqui no Brasil) é uma série de histórias em quadrinhos originalmente publicada pela DC Comics. A proposta era que grandes roteiristas e ilustradores do mercado de quadrinhos dos EUA pudessem escrever histórias sobre os personagens mais icônicos, como Batman e Superman, revisitando o passado e deixando de lado a preocupação com a complexa cronologia da editora. E enquanto Frank Miller ficou responsável por Batman (uma história que, por sinal, ele nunca finalizou), Grant Morrison recebeu  a tarefa de escrever sobre o Homem de Aço, contando com a parceria do fantástico desenhista Frank Quitely. Juntos, reuniram cerca de setenta anos da cronologia que envolve o personagem, resultando em uma história emocionante, divertida, extremamente coerente e também reveladora. Ao mesmo tempo em que leva o Superman a explorar seus poderes até os mais absurdos limites, também o faz menos complexo e - porque não? – mais humano, abordando temas como família, amor, legado, vida, honestidade e morte. Ao todo, foram doze edições publicadas entre os anos de 2006 e 2008. A série tornou-se uma das mais premiadas hq’s dos últimos anos nos Estados Unidos e alcançou o status de lendária logo após seu lançamento, além de ser considerada uma das melhores histórias do personagem nos últimos vinte anos. Em 2012, a Panini Comics publicou o título Superman: Grandes Astros aqui no Brasil, em uma edição especial encadernada.

Título: Superman - Grandes Astros (Superman All Stars).

Roteiro: Grant Morrison.

Arte: Frank Quitely. 

Páginas: 308 páginas.

Editora: DC Comics (distribuída no Brasil pela Panini Comics).

Algumas Impressões

        Começo confessando que o Superman não era um dos meus super - heróis favoritos. Em se tratando de DC Comics, heróis como Batman e a Mulher – Maravilha, e até vilões como Coringa e Arlequina, sempre me conquistaram mais. Mas um amigo me emprestou esta edição com a promessa de que eu gostaria, e ela acabou superando as expectativas. A história começa com um plano um tanto ousado de ninguém menos que Lex Luthor para derrotar o Homem de Aço, usando a fonte de sua força como o estopim para a derrota do herói de Metrópolis. Em uma expedição ao sol realizada pelo Dr. Quintum e a equipe PROJECT, um clone do vilão sabota a nave em que viajavam, deixando a tripulação bem próxima da morte. A situação acaba forçando o Superman a chegar muito perto do sol amarelo para salvá-los, aumentando – e muito – seus poderes e desgastando seu organismo, o que faz com que o herói fique fadado a viver apenas mais um ano. Com esta sentença de morte pairando sobre sua cabeça, Superman aproveita para realizar um determinado número de tarefas heroicas, doze no total (isto não parece familiar?). Mas, por mais que por esta premissa pareça um enredo com a finalidade única de nos fazer refletir sobre a importância dos heróis, a série surpreende com muita ação, com direito a inimigos clássicos, como Bizarro e Solaris, além de ser recheada de confrontos dignos da saudosa Era de Prata dos quadrinhos (que Morrison adora).

“Superman foi o primeiro super-herói dos quadrinhos e hoje é considerado um símbolo da cultura americana. O herói foi criado em 1938 pelos judeus Joe Shuster e Jerry Siegel, mas tem uma origem messiânica e cristã: Kal-El, o último filho do moribundo planeta Krypton, foi enviado à Terra por seu pai Jor-El para ser o único sobrevivente de seu povo. Na Terra ele foi criado por um maravilhoso casal de fazendeiros, Jonathan e Martha Kent, recebendo o nome de Clark Kent. Hoje um repórter renomado no Planeta Diário, ele também age como Superman graças aos incríveis poderes que possui sob a radiação do sol amarelo. Inspirador, o Superman é o maior símbolo heroico da DC Comics, dentro e fora do universo fictício”.

        Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a expressividade dos quadros extremamente detalhados do desenhista Frank Quitely, capazes de evidenciar até as mais sutis características dos personagens, dando mais vida à história. A riqueza de detalhes é essencial na Fortaleza da Solidão, por exemplo, onde vários itens de antigas aventuras do herói estão presentes no quadro, fazendo as vias de referências para os fãs mais antigos. Falando nelas, as referências são um ponto alto desta série. Grant Morrison faz questão de presentear os leitores com um número absurdo delas, principalmente à saga DC Um Milhão, que ele escreveu ainda quando era o autor do título Liga da Justiça. A forma como faz a separação entre Superman e seu alter ego, Clark Kent, também é absolutamente fantástica, uma vez que a postura e até mesmo as expressões do herói são decisivas na hora de diferenciar os dois lados de um mesmo personagem. Morrison também visita o passado do Último Filho de Kripton, em uma história em que Clark ainda é o jovem Superboy, na cidade de Smallville. É um momento de transição para o herói, que ainda tenta se decidir se deve ou não se mudar para Metrópolis. É aqui que ele tem sua primeira grande tragédia pessoal, mostrando ao mesmo tempo a força e a fragilidade do personagem. São muitas páginas, e acredito que não é possível transmitir em algumas poucas linhas tudo o que estas histórias significaram para mim, mas All Stars veio para mudar de uma vez por todas minha visão sobre o personagem. Descobri muitas coisas que não sabia, mas, acima de tudo, desconstruí conceitos pré - estabelecidos sobre ele. Vale muito a leitura.