segunda-feira, 13 de março de 2017

Resenha: Pax


“Foi quando ouviu, atrás de si, uma porta de carro sendo fechada, depois outra. A raposa partiu a toda, sem se importar com os espinheiros que arranhavam seu rosto. O motor do carro ganhou vida com um rugido. A raposa parou de súbito, na beira da estrada. Seu menino baixou o vidro da janela e esticou os braços para fora. Quando o carro partiu, cantando pneu e erguendo no cascalho uma nuvem de poeira, o pai gritou o nome do menino: - Peter! E o menino gritou o único outro nome que a raposa conhecia: - Pax!”.

Sinopse: “Peter e sua raposa são inseparáveis desde que ele a resgatou, órfã, ainda filhote. Um dia, o inimaginável acontece: o pai do menino vai servir na guerra, e o obriga a devolver Pax à natureza. Ao chegar à distante casa do avô, onde passará a morar, Peter reconhece que não está onde deveria: seu verdadeiro lugar é ao lado de Pax. Movido por amor, lealdade e culpa, ele parte em uma jornada solitária de quase quinhentos quilômetros para reencontrar sua raposa, apesar da guerra que se aproxima. Enquanto isso, mesmo sem desistir de esperar por seu menino, Pax embarca em suas próprias aventuras e descobertas. Alternando perspectivas para mostrar os caminhos paralelos dos dois personagens centrais, Pax expõe o desenvolvimento do menino em sua tentativa de enfrentar a ferocidade herdada pelo pai, enquanto a raposa, domesticada, segue o caminho contrário, de explorar sua natureza selvagem. Um romance atemporal e para todas as idades, que aborda relações familiares, a relação do homem com o ambiente e os perigos que carregamos dentro de nós mesmos. Pax emociona o leitor desde a primeira página. Um mundo repleto de sentimentos em que natureza e humanidade se encontram numa história que celebra a lealdade e o amor”.

Título: Pax.
Autora: Sara Pennypacker.
Páginas: 333 páginas.
Editora: Intrínseca.
ISBN: 9788551000229.

 

“Às vezes, na verdade, Peter tinha a estranha sensação de que ele e Pax eram um só. A primeira vez foi quando ele o levou, ainda filhote, para passear. Pax viu um pássaro e começou a forçar a coleira, tremendo como se estivesse recebendo uma carga elétrica. E Peter viu a ave pelos olhos de Pax: o incrível voo veloz como um raio, em liberdade e velocidade absurdas. Peter sentiu a própria pele se inflamar, o corpo inteiro tomado por arrepios, os ombros ardendo como se ansiassem por asas. E tinha acontecido de novo naquela tarde. Sentira o carro se afastando como se fosse ele a ficar para trás. Em pânico, seu coração tinha disparado”.

Algumas Impressões 

       Desde que a Intrínseca anunciou o lançamento de “Pax”, da autora Sara Pennypacker e com ilustrações de Jon Klassen, ainda em 2016, eu fiquei louca para conhecer a trama. Em uma impecável edição hardcover de pouco mais de trezentas páginas, o livro conta a história de Peter e Pax, um menino e uma raposa absolutamente inseparáveis, e que compartilhavam de uma forte relação de amor e cumplicidade. Pouco depois da morte da mãe, cinco anos atrás, o garoto havia resgatado a raposinha ainda filhote, o único a sobreviver de sua ninhada, e encontrado nele a companhia e o consolo de que tanto necessitava. Afinal, pouco podia contar com o pai, que, endurecido pelo tempo e por suas próprias convicções, pouco tinha a oferecer além de comida e um teto sob o qual morar. Porém, quando a guerra se aproxima e o pai se alista para servir, Peter se vê obrigado a mudar-se para a casa do avô e, com medo e sem opções, incapaz de contrariar as ordens do pai sempre autoritário, tem de obedecer à ordem de abandonar sua raposa domesticada a própria sorte na floresta. Porém, ao chegar à casa do avô e conhecer mais sobre o passado do pai, Peter percebe que não pode ficar sem sua raposa: precisa encontrá-la a qualquer custo e reconquistar sua confiança. Ele então elabora às pressas um plano para retornar ao local onde deixou Pax, e saí em uma jornada longa e solitária com o objetivo de reencontrar seu amigo. Do outro lado, a raposa espera ansiosa pelo retorno do “seu menino”, pois tem plena convicção de que ele irá buscá-lo. O que os amigos não previam era o quão longa poderia se tornar a jornada, e que sozinhos não chegariam tão longe. Durante toda esta árdua trajetória, com os “doentes de guerra” cada vez mais próximos e a sombra escura e perigosa do conflito pairando nos céus, tanto a raposa quanto o menino criarão laços e viverão novas experiências que, de uma forma ou de outra, os ajudarão a seguir em frente na tentativa de se reunirem novamente. 


“Pax sentia fome e frio, mas o que o despertou foi a necessidade de abrigo. Piscou uma vez e recuou um pouco. Ao contrário do que imaginara, o que havia atrás não eram as barras firmes do seu cercado, pois cedeu facilmente, com estalos secos. Quando se virou, deparou-se com o canteiro de asclépias secas onde havia se aninhado algumas horas antes. Gritou por Peter, mas então lembrou: seu menino tinha ido embora”.

         Em uma narrativa fluida e alternada entre a trajetória de Peter e a de Pax, a autora torna possível a conexão entre leitores e personagens, possibilitando a compreensão do passado e dos sentimentos de cada um, a forma como empreendem suas jornadas individuais e o amadurecimento resultante disto. A premissa é a de que o menino precisa conhecer quem é tanto quanto a raposa precisa conhecer seus instintos para sobreviver em meio à natureza e a guerra. Interligados por uma força inexplicável, é quase palpável o crescimento de ambos durante a trama, e, à medida que enfrentam suas fraquezas e empreendem novas descobertas, ficam mais fortes – e talvez mais perto de se reunirem novamente. Peter sempre reprimiu suas vontades e lutou contra seus desejos com medo de se tornar alguém violento e amargurado como o pai, afinal, “a maça nunca cai longe da árvore”. E, ao longo do caminho, enquanto deixa para trás o menino submisso e tímido e começa a trabalhar sua autoestima e autoconfiança, a raposa descobre um mundo totalmente novo ao lado de seus semelhantes, com diversas possibilidades a serem exploradas, mas também muitos perigos. Sara foi extremamente feliz ao construir este enredo, que traz discussões intrínsecas sobre preconceito, aceitação e autodescoberta, além de uma crítica bem colocada sobre os efeitos da guerra. O desfecho me surpreendeu, apesar de eu já ter feito várias suposições sobre o que poderia acontecer, mas após um longo período da boa e velha “bad pós leitura”, cheguei à conclusão de que a verdadeira lição está no processo, e não no resultado – o que de forma alguma o torna um livro ruim, muito pelo contrário. A edição está impecável, e as ilustrações de Jon Klassen dão o tom certo de dramaticidade, realismo e caricatura (tudo isso em um só), perfeitos para conferir ainda mais profundidade aos escritos de Sara. Se você procura por narrativas profundas e emocionantes, porém contadas de forma leve e completamente irreverente, “Pax” com toda a certeza vai conquistar o seu coração. A raposa e seu menino, inseparáveis.


Sobre a Intrínseca

Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.


4 comentários:

  1. QUERO LER! Eu vi esse livro na livraria e simplesmente me encantei com a capa, o desenho é muito lindo! E olha, eu sou muito apaixonada por raposas hsauhuas tenho um chaveiro de raposa que é o meu xodó <3 e adoro essas histórias pelo ponto de vista dos animais, tipo Cavalo de Guerra, é encantador <3

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    1. O livro é simplesmente a definição de amor que foi atualizada na minha vida! Eu não me canso de exaltar a diagramação e o trabalho editorial impecáveis que a Intrínseca fez nessa edição. Sabe aquela que dá gosto de fotografar e publicar por aí? E fora que a narrativa é maravilhosa, reflexiva e fofinha. Um beijo :*

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  2. Primeiro: amei a nova roupinha do Fleur ♥ Segundo: esse livro é lindinho demais, né? Confesso que pouco sabia sobre ele, até que encontrei uma foto dele e fiquei absolutamente apaixonada. A edição está lindíssima. Quanto a história, parece ser muito bacana e envolve sentimentos e sensações tão raras, tão gentis, que a gente fica meio bobo, né? Quero muito ler um dia. Aliás, a mini raposinha é uma fofura.

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    1. OWN <3 Obrigada miga! Ainda estou fazendo modificações, mas agora ele está mais profissional hahahahaha Tô me sentindo a blogayrinha famosa :p E sobre o livro, ain.... nem tenho mais palavras para falar do tamanho do amor. Eu estou encantada com tudo, da capa às ilustrações e a narrativa. Ah, lê sim! Você não vai se arrepender <3 E essa raposinha era um anel! Quebrou mas eu guardei porque amo hahaha Um beijo :*

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