terça-feira, 26 de junho de 2018

Resenha: Com Amor, Simon


“Mas estou cansado de sair do armário. Tudo o que eu faço é sair do armário. Tento não mudar, mas estou sempre vivendo essas pequenas mudanças. Arrumo uma namorada. Tomo uma cerveja. E, todas as vezes, preciso me reapresentar para o universo”. 

Sinopse: “Foi em agosto, logo no início das aulas. Uma postagem no Tumblr de confissões anônimas da escola fez Simon pensar: “É isso! ” Mal sabia ele que, a partir daquele dia, sua vida e seu coração nunca mais seriam os mesmos. Porque foi ali que ele conheceu o misterioso Blue, o garoto por quem Simon está se apaixonando mais e mais a cada e-mail trocado, a cada conversa hilária ou profunda sobre música, família, amigos, Oreos. Sobre ser gay e ninguém saber. Não é que Simon esteja em dúvida quanto a sua sexualidade ou com medo do que vão pensar. Ele sabe que é gay e tem certeza de que sua família e seus amigos não verão problema algum nisso, mas como dar a notícia? Haverá um momento certo para isso? Como lidar com os olhares de curiosidade, com as perguntas que vão surgir? Como continuar sendo o mesmo Simon para um mundo que vai olhá-lo de maneira diferente? Com amor, Simon trata com sensibilidade e leveza de amizade, vulnerabilidade e amadurecimento, mas é, acima de tudo, um livro sobre um garoto prestes a viver uma grande história de amor”. 

Título: Com Amor, Simon (Simon vs. A agenda homo sapiens). 
Autora: Becky Albertalli. 
Páginas: 272 páginas. 
Editora: Intrínseca. 
ISBN: 978-85-510-0305-3. 

 

“Não sei muito bem como foi comigo. Foram várias coisinhas. Por exemplo, um sonho estranho que tive com Daniel Radcliffe. E a obsessão que eu tinha pelo Passion Pit no fundamental, que depois percebi que não era bem por causa da música”. 

Algumas Impressões 

Percebi que sou praticamente mestre em deixar o hype de alguns títulos passar para que eu possa finalmente fazer a leitura (“Extraordinário”, por exemplo, não me deixa mentir). Lançado pela primeira vez no Brasil em 2016, com o título “Simon vs. A agenda Homo Sapiens”, e republicado este ano com um novo nome - em comemoração ao lançamento da adaptação para os cinemas -, “Com Amor, Simon” é mais uma história que me conquistou após encantar milhares de leitores ao redor do mundo. Na trama, conhecemos Simon, um garoto de dezesseis anos que é gay, mas ninguém sabe. Ou quase ninguém, já que desde o início das aulas ele vem trocando e-mails de forma anônima com o misterioso Blue. Tudo começou ainda nas férias, através de uma postagem no Tumblr de fofocas e confissões da escola, onde Blue expunha como se sentia sozinho por conta de sua sexualidade. Simon, ao se identificar com a mensagem, criou uma conta para entrar em contato com o garoto, e, desde então, os dois escrevem um para o outro diariamente, contando histórias sobre a vida, a família, os amigos e sobre o fato de ambos serem homossexuais e não se sentirem preparados para “sair do armário”. Debatendo sobre como é injusto o fato de outras pessoas não precisarem se revelar desta forma, sobre como o mundo os vê e sobre como eles próprios se enxergam. E a cada nova mensagem trocada, Simon vai se apaixonando mais e mais por seu correspondente, mesmo sem saber sua real identidade. 


“Ele falou como você pode decorar os gestos de uma pessoa, mas nunca saber o que se passa na cabeça dela. E ter a sensação de que todos somos como casas com aposentos enormes e janelas pequenininhas. Sobre como você pode se sentir muito exposto, de uma forma ou de outra. Sobre como ele se sente tão escondido e tão exposto, em relação a ser gay”. 

Como se as coisas não fossem complicadas o suficiente, ao responder a uma mensagem em um dos computadores da escola, Simon acaba esquecendo a conta logada, e um colega de classe, Martin, acaba descobrindo seu segredo. Ele então passa a chantageá-lo, ameaçando expor as conversas caso não o ajude a se aproximar de Abby, uma das amigas mais próximas de Simon. A partir daí o garoto terá de acrescentar mais um item em sua lista de preocupações, já que ainda não se sente confiante para contar ao mundo que é gay. Aqui vale dizer que, em comparação com inúmeras histórias reais e fictícias que conhecemos, Simon vive uma situação mais “tranquila” que a maioria, uma vez que, mesmo levantando questionamentos extremamente pertinentes sobre o assunto, a autora traz um aspecto leve e descontraído sobre as camadas mais profundas e reflexivas que envolvem o processo de “sair do armário”. Em outras palavras, Simon é branco, possui uma boa condição financeira, uma família que o apoia e amigos que se mantém ao seu lado. Claro que nada disso excluí as inseguranças e receios sobre expor ao mundo sua sexualidade, ou mesmo o preconceito e as humilhações pelas quais ele acaba passando, mas a forma como isso é abordado faz com que a mensagem seja passada ao mesmo tempo em que a narrativa se mantém descontraída e bem-humorada. 


“É que às vezes parece que todo mundo sabe quem eu sou, menos eu”. 

É um livro que aborda a representatividade, o pertencimento, o amor e a sexualidade, a aceitação e o encorajamento. E que questiona o lugar comum ao afirmar que nem tudo precisa ser permeado de conflitos, principalmente quando se trata de assumir a própria sexualidade (uma experiência extremamente traumática para a maioria, infelizmente). Aqui, Becky Albertalli, que é psicóloga, utiliza de toda a experiência que adquiriu trabalhando com adolescentes para buscar, através da construção de seus personagens, a naturalização de algo que precisa urgentemente se tornar de fato natural, para que as pessoas parem de julgar umas às outras por algo que, sejamos sinceros, não lhes diz respeito. Outro ponto interessante é o mistério em torno da identidade de Blue, já que, assim como o protagonista, queremos saber de quem se trata, e acabamos criando teorias sobre os possíveis candidatos. É muito natural a forma como a relação entre ele e Simon acaba se desenvolvendo por meio das mensagens trocadas por e-mail, e achei que a autora acertou em cheio em fazer de Blue uma espécie de narrador indireto, o que faz com nós também criemos um vínculo com ele ao longo dos capítulos. A escrita flui de uma forma excelente e a narração alternada entre os e-mails e nosso protagonista deixa tudo ainda mais envolvente e imersivo. 


“É verdade que você e eu não podemos nos encher de presentes na vida real, mas, se eu pudesse, compraria na internet milhares de camisetas de bandas para você. Mesmo que isso significasse perder o respeito dos músicos por toda parte (porque é claro que as coisas funcionam assim, Jaques). Ou talvez a gente pudesse ir a um show. Eu não entendo muito de música, mas imagino que seria divertido se eu estivesse com você. Talvez um dia”. 

Esta é, sobretudo, uma história de amor que aborda o encantamento pela essência, a conexão pelas ideias e o preenchimento de uma solidão que ambos sentiam por conta da opressão do silêncio. Claro que, como um bom YA, ainda temos alguns estereótipos do ensino médio, bullying escolar e romances adolescentes, mas penso que esta é uma trama indicada para todos, e não apenas para um nicho específico. Por mais que eu tenha esperado um bom tempo para finalmente embarcar na história de Simon, não me arrependo, uma vez que acredito que determinadas narrativas nos encontram no tempo certo para que possamos aprender com elas. Não tenho lugar de fala para me posicionar sobre como é ter de se revelar para o mundo, passar por inúmeros questionamentos e julgamentos e, em alguns casos, sofrer até mesmo violência. Mas espero encarecidamente que tramas como esta continuem abrindo caminho em meio ao preconceito, e encorajando cada vez mais Simons. Afirmando que todos são livres para ser quem são. Mostrando que todo mundo merece uma grande história de amor. Com amor, Fleur. 


Sobre a Intrínseca
Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.



4 comentários:

  1. Eu amo o universo de Simon! Sua resenha tá a coisa mais lindaaaa! Recomendo os demais livros da autora, Becky allbertali, ela é maravilhosa. Love, Simon é necessario, é verdadeiro <3
    www.viniciustorres.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu amei também e já quero ler mais da autora! Muito obrigadaaa <3 <3 Sim! Que cada vez mais narrativas dessa ganhem espaço! Um beijo <3

      Excluir
  2. Não sei se gostei mais da resenha ou do livro ou do teu jeito de escrever hahaha Adorei tudo, mesmo mesmo!
    Esse livro vai com certeza parar na minha estante um dia!
    Abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ooooown, obrigada!!! <3 <3 Esse livro é ótimo e vale muito a leitura! Um beijão!

      Excluir