quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Resenha: Hippie

“Em seu livro mais autobiográfico, Paulo Coelho nos leva a reviver o sonho transformador e pacifista da geração hippie”. 

Sinopse: “Paulo é um jovem que planeja ser escritor, deixa os cabelos longos e sai pelo mundo à procura da liberdade e do significado mais profundo da existência. Uma jornada que vai desde a sua prisão como terrorista pela ditadura militar brasileira, em 1968, enquanto viajava pela América do Sul, até o encontro com Karla em Amsterdam, quando juntos resolvem ir até o Nepal no Magic Bus. No caminho, os companheiros não apenas vivem uma extraordinária história de amor, mas também passam por transformações profundas e abraçam novos valores para a vida”. 

Título: Hippie. 
Autor: Paulo Coelho. 
Páginas: 286 páginas. 
Editora: Paralela. 
ISBN: 978-85-8439-116-5. 

“Milhares de livros já foram escritos sobre o caminho da verdade e nenhum deles explica exatamente o que é. Em nome da Verdade, a raça humana cometeu seus piores crimes. Homens e mulheres foram queimados, a cultura de civilizações inteiras foi destruída, os que cometiam os pecados da carne eram mantidos à distância, os que procuravam um caminho diferente eram marginalizados. Um deles, em nome da ‘verdade’, terminou crucificado. Mas, antes de morrer deixou a grande definição da Verdade. Não é o que nos dá certezas. Não é o que nos dá profundidade. Não é o que nos faz melhor que os outros. Não é o que nos mantém na prisão dos preconceitos. A verdade é o que nos faz livres. “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”, disse Jesus”. 

Algumas Impressões 

Confesso que passei muitos anos me esquivando das narrativas de Paulo Coelho, mas, quando finalmente encontrei suas palavras (ou elas me encontraram, não tenho certeza), não parei até que tivesse lido o máximo de páginas escritas por ele. Vigésimo livro do autor, “Hippie” chegou às livrarias em maio pelo selo Paralela, do Grupo Companhia das Letras, e, tido como seu romance mais autobiográfico, revive o sonho transformador e pacifista da geração que marcou o início da década de 1970. Em uma época sem internet, o estilo de vida adotado pelos jovens passou a ganhar visibilidade ao redor do mundo, criando inúmeras redes sociais por meio de caminhos em busca da transformação espiritual. O grupo ousava desafiar os padrões impostos pelas civilizações ocidentais, defendendo a busca pela verdade interior, a empatia, a liberdade, o amor e a paz, assim como criticava e expunha a hipocrisia de um sistema voltado para o dinheiro e o consumo - não muito diferente do atual. Em contrapartida, eram taxados como vagabundos, terroristas e traficantes de drogas, sobretudo pelas autoridades. E é neste contexto que conhecemos os personagens principais da mais nova trama do mago, que, acima de qualquer outra coisa, traz experiências reais vividas pelo autor, sem necessariamente manter a ordem dos fatos.

“O sonho é algo espontâneo e, portanto, perigoso para aqueles que não têm coragem de sonhar. Ele acreditava. Tinha escolhido sua loucura e agora pretendia vivê-la intensamente, ficar ali até que escutasse seu chamado para fazer algo que ajudasse a mudar o mundo. Seu sonho era ser escritor, mas ainda era cedo para isso, e ele tinha dúvidas de que livros tivessem esse poder, mas faria o seu melhor para mostrar o que os outros ainda não estavam vendo. Uma coisa era certa: não tinha volta, existia agora apenas o caminho da luz”. 

Enquanto na realidade o autor viveu as experiências retratadas durante suas muitas andanças pelo mundo - como em uma viagem de trem de Amsterdã a Istambul, durante uma das vezes em que foi preso durante a ditadura militar brasileira (quando foi acusado de terrorismo por conta das letras que compunha para o amigo Raul Seixas) e em um percurso na América do Sul (passando pelo Peru, Chile e Argentina) -, aqui Paulo é um jovem brasileiro que deseja ser escritor, mas que ainda não acredita ter bagagem o suficiente para isso - ou mesmo que as palavras possuam o poder de deixar a marca transformadora que deseja. Ao chegar em Amsterdã, ele conhece Karla, uma jovem holandesa muito idealista e que está em busca de um novo significado para a própria vida. Ela já vinha planejando há algum tempo uma viagem de vários dias a bordo do Magic Bus, que tem como destino final o Nepal, e, ao encontrar Paulo, vê nele a companhia que tanto procurava para a jornada. Durante o trajeto, os dois vivem uma extraordinária e peculiar história de amor, passando ainda por transformações profundas e a percepção de novos valores. Neste meio tempo, outros personagens também ganham protagonismo, como um dos motoristas e um ex-publicitário francês, o que cria sub-tramas, diferentes pontos de vista e camadas à mais de complexidade e reflexão ao enredo. O autor também levanta questões extremamente atuais em um mundo cada vez mais polarizado, com a necessidade crescente de empatia, tolerância e solidariedade. É, acima de tudo, uma narrativa sobre autoconhecimento, transformação, fé e crenças. Em poucas palavras, é uma história sobre correr atrás (do quê, vai de cada um), e que traduz o significado da passagem que diz que ao conhecermos a Verdade, ela nos libertará. Leitura mais do que recomendada. 

“Amor é uma pergunta sem resposta”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário