sábado, 29 de setembro de 2018

Resenha: A Essência do Mal

“É sempre assim. No gelo, primeiro se ouve a voz da Besta, depois se morre. Blocos de felo e abismos idênticos àquele em que eu me encontrava estavam cheios de alpinistas e escaladores que tinham perdido as forças, a razão e, por fim, a vida por culpa daquela voz”. 

Sinopse: “O americano Jeremiah Salinger ganhava a vida fazendo documentários até se mudar com a esposa e a filha para uma região remota da Itália. Lá, após um acidente com o helicóptero em que está fazendo uma filmagem, passa a ser atormentado pela ideia de que existem nas montanhas ao redor uma força que não consegue entender e a que chama de A Besta. Passeando com a filha em um desfiladeiro com toneladas de fósseis, Jeremiah escuta uma conversa que traz de volta à tona seu espírito de investigação. Em 1985, três jovens tiveram seus corpos selvagemente atacados ali, com os membros arrancados por um assassino que nunca foi encontrado. Obcecado em solucionar o mistério, Jeremiah acredita que a nova missão vai impedi-lo de perder a sanidade e mergulha em um quebra-cabeça macabro e fascinante. Ele não faz ideia da terrível verdade que o aguarda. A essência do mal é uma história sobre redenção e a verdadeira face do ser humano”. 

Título: A Essência do Mal. 
Autor: Luca D’ Andrea. 
Páginas: 368 páginas. 
Editora: Intrínseca. 
ISBN: 978-85-510-0261-2. 

"Aniversários e triângulos com a ponta virada para cima. E uma alma que a pressão implacável do tempo tornara insensível como uma rocha, rocha que, tal como tinha acontecido no Bletterbach, fora moldada a tal ponto pelo ódio que era capaz de trazer novamente à luz o indizível enterrado no coração de cada ser humano." 

Algumas Impressões 

Obra de estreia do autor italiano Luca D’Andrea, “A Essência do Mal” é uma narrativa intrigante, que mistura elementos fantásticos e reais para criar um suspense sufocante, porém, bem elaborado. A trama, que carrega fortes inspirações nas obras de Stephen King e uma referência bem pensada a “O Iluminado”, é extremamente tensa desde as primeiras páginas, e envolve o leitor de forma que é quase impossível não se sentir tentado a seguir com a leitura – mesmo que, em determinado momento, um pouco do interesse se perca no caminho. Conhecido por seu trabalho como documentarista, Jeremiah Salinger se muda com a família para a terra natal de sua mulher, Siebenhoch, uma pequena cidade localizada nas Dolomitas, a famosa cadeia de montanhas ao norte da Itália. Lá, decide acompanhar a equipe de Socorro Alpino das Dolomitas com o objetivo de produzir um documentário sobre o trabalho, contudo, durante um salvamento nas montanhas, um terrível acidente acontece e apenas ele escapa com vida. Mesmo recuperado fisicamente, o abalo emocional permanece, e, durante um dos passeios diários com a filha pelo cânion Bletterbach, popular por seus inúmeros fósseis, Jeremiah descobre algo que mudará para sempre o foco de sua vida: no ano de 1985, três jovens foram brutalmente assassinados ali, e o assassino nunca foi descoberto. Determinado a desvendar o mistério, o documentarista faz do local uma obsessão que pode destruir tanto sua família quanto a própria vida.

“O terror no olhar do rapaz paralisado por um ataque de pânico. A dor do pastor com a perna esmagada por um desmoronamento de pedras. O turista semicongelado. O casal perdido na neblina. Uma infinidade de ossos quebrados, bacias deslocadas, articulações destruídas, sangue, suor. Muitas lágrimas, poucos agradecimentos”. 

Com um clima cinzento e que vai se agravando ao longo dos capítulos, a narrativa de Luca D’Andrea é uma boa pedida para quem curte um bom mistério, daqueles onde acompanhamos os desdobramentos e descobrimos novas informações à medida que os personagens avançam na trama. Quando as peças se encaixam, as coisas são resolvidas, muitas vezes surpreendendo mesmo o leitor mais atento. Mas, apesar dos bons e complexos personagens, a construção possui algumas ressalvas, principalmente no que diz respeito ao ritmo, extremamente lento em muitos momentos. Acredito que muito disso se deve ao teor extremamente descritivo da escrita do autor, uma vez que, apesar de necessário para a ambientação, acaba exagerando em diálogos expositivos que poderiam ser reduzidos. Outro ponto que me incomodou foi a aparente necessidade de tornar a história crível, apresentando situações que frustram ao invés de agradar. Dentre os pontos fortes, pode-se destacar o desenrolar dos fatos a partir da segunda metade do livro, como a cada vez mais angustiada e abalada psique do protagonista e a bela surpresa envolvendo a Besta. Várias passagens são realmente assustadoras e, mesmo que você não goste 100% do desfecho, tenho certeza de que “A Essência do Mal” permanecerá em seus pensamentos por um bom tempo.

Sobre a Intrínseca
Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.



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