sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Resenha: Mapa dos Dias

“Eu nunca havia duvidado tanto da minha sanidade quanto naquela primeira noite, quando a mulher-ave e seus protegidos apareceram para impedir que me internassem em um hospital psiquiátrico. Eu estava espremido entre dois tios parrudos no carro dos meus pais quando um grupo de crianças peculiares pareceu sair direto da minha imaginação para a rua à nossa frente, como uma legião de anjos à luz dos faróis”. 

Sinopse: “Tendo derrotado a ameaça monstruosa que quase destruiu o mundo peculiar, Jacob Portman está de volta à sua casa, no tempo presente, só que, agora, acompanhado da Srta. Peregrine, de Emma e de seus outros amigos. O primeiro desafio é ensiná-los a se passar por normais na pequena cidade da Flórida. São dias tranquilos de passeios na praia – logo interrompidos pela descoberta de um bunker subterrâneo na casa onde o avô de Jacob morava. Pistas da vida dupla de Abe como agente secreto peculiar começam a emergir por todos os lados, segredos escondidos em fragmentos de sua infância. E um perigoso legado aos poucos se revela, envolvendo acontecimentos que faziam parte da vida de Jacob bem antes de ele entrar numa fenda temporal pela primeira vez. Impulsionados pela certeza de que podem fazer diferença no mundo, Jacob e seus amigos se lançam no território selvagem da América peculiar, um mundo onde parece não haver ymbrynes nem regras – uma ausência aparentemente inexplicável – mas onde não faltam ameaças. Prepare-se para pegar a estrada e conhecer toda uma nova coleção de peculiares, em suas mais surpreendentes variações, em diferentes eras”. 

Título: Mapa dos Dias (Livro IV da série O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares). 
Autor: Ranson Riggs. 
Páginas: 448 páginas. 
Editora: Intrínseca. 
ISBN: 978-85-510-0367-1. 

Algumas Impressões 

Se você achou que “Biblioteca de Almas” seria o desfecho da história dos peculiares, vamos dar as mãos, pois também me enganei! Com início em 2016, a série “O Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares”, do autor Ransom Riggs, foi instantaneamente um sucesso literário, principalmente por conta de sua narrativa original, complexa e repleta de descobertas. No primeiro volume, somos apresentados às misteriosas e fascinantes tramas que permeiam o orfanato primeiramente através dos contos de ninar que o velho Abe Portman passou anos contando a seu neto, Jacob. A casa, situada em uma remota ilha do País de Gales, é o lar de um grupo de crianças peculiares há pouco mais de sete décadas, as quais vivem repetidamente o dia três de setembro de 1940. Dotado de infinitas possibilidades – tanto pelas fendas temporais quanto pelas fascinantes viagens no tempo possíveis graças ao poder das ymbrynes – o universo peculiar faz com que o leitor se envolva profundamente ainda nas primeiras páginas deste enredo fantástico, permeado por personagens únicos e muito bem construídos. 

O segundo volume, “Cidade dos Etéreos”, dá sequência ao desfecho de seu antecessor, onde as crianças partem em uma jornada arriscada em busca da cura da Srta. Peregrine, presa na forma de ave por conta de uma armadilha de seus inimigos. Agora, Jacob Portman precisa mais do que nunca desenvolver suas habilidades únicas, numa tentativa desesperada de garantir a segurança do grupo contra os terríveis etéreos, ex-peculiares monstruosos e ávidos por consumir as almas de seus antigos irmãos. Por fim, “Biblioteca de Almas” usou mais do que nunca da união entre o texto e as curiosas – e por vezes assustadoras – fotografias de época para conduzir o leitor por entre os intrincados becos peculiares, reservando muitas surpresas para aqueles que acompanham a série. A cada nova página, uma grande reviravolta ou revelação inimaginável faz com que o enredo se torne emocionante e cativante, tanto através de ações dos personagens já conhecidos quanto da introdução de novos rostos que se tornam decisivos para a trama. Em termos gerais, a série é um intrincado quebra-cabeças de mistérios criado por Riggs, o qual tive o prazer de montar ao longo destes três volumes. Com o uso de temáticas fantásticas, o autor trabalhou com maestria, manipulando o tempo de forma única e dando vida a um universo vasto, curioso, interessante e, acima de tudo, muito peculiar. 

“Fiquei para trás, com a Srta. Peregrine. Eu tinha outras coisas na cabeça e não estava com vontade de entrar na água. E, apesar da conversa sobre problemas e complicações, a ymbryne não parecia nem um pouco abalada. Ela também tinha muito em que pensar, mas seus problemas – ao menos o que eu sabia a respeito deles – eram relacionados a crescimento, cura e liberdade. E tudo isso era algo pelo qual se agradecer”. 

E para aqueles que, assim como eu, achavam que “Contos Peculiares” seria o fim, em outubro do ano passado o universo peculiar voltou com tudo através do lançamento de “Mapa dos Dias”, pela Editora Intrínseca – e desta vez, marcando o início de uma nova trilogia da saga já tão aclamada. Com ainda mais aventuras e um mergulho mais profundo neste vasto e diferente mundo, o livro tem como ponto de partida o desfecho de “Biblioteca de Almas”, onde Jacob Portman decide voltar para casa após todos os acontecimentos aos quais sobreviveu nas inúmeras fendas temporais do mundo peculiar. Após uma tentativa frustrada de provar para seus pais que não precisava de ajuda psicológica, ele é salvo da internação pelo repentino aparecimento de seus amigos peculiares no tempo presente, o que acaba por desencadear uma nova trama de mistérios há muito escondidos. Ao visitar a casa do falecido Abe Portman, o grupo encontra um bunker secreto repleto de informações sobre as expedições de Abe como um espião peculiar, e a descoberta impulsiona Jacob a seguir os passos do avô. 

Com pouco mais de quatrocentas páginas e apresentando uma versão mais madura e desenvolvida de seus personagens, o livro flui de forma rápida e envolvente, em uma leitura constantemente impulsionada pela curiosidade sobre os acontecimentos futuros. Algo que chama a atenção é certamente a revelação de uma nova face do universo peculiar, mostrando o quanto uma mesma história pode ser conduzida de formas diferentes em distintas partes do globo – neste ponto, é extremamente interessante ver como os peculiares dos Estados Unidos possuem um estilo de vida completamente diferente daqueles os quais já conhecemos. Com menos ação do que os volumes anteriores, “Mapa dos Dias” não deixa a desejar em nenhum quesito, mas se mostra tanto como uma reapresentação quanto como um convite para aqueles que desejam saber mais sobre a narrativa de Ransom Riggs. Sobre a edição, é impecável assim como as outras, entretanto, o toque especial das fotografias coloridas traz um novo e mais realista aspecto para a trama. Não preciso nem dizer que é uma leitura mais do que recomendada, né?

Sobre a Intrínseca
Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.



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