Resenha: Surpreendente

“No cinema tudo é possível, e o improvável, como os milagres que as pessoas passam a vida pedindo e quase nunca alcançam, depende apenas das decisões tomadas pelo roteirista. Mas a vida das pessoas reais não é cinema, e tampouco teria de ser diferente com a vida de alguém que dedicou cada um dos seus melhores momentos a transformá-la em um belo filme”.

      Em algumas coisas, Pedro é como todos os outros: um jovem cheio de sonhos e planos e algumas escolhas pela frente. Mas, aos 25 anos e recém formado em áudio visual, está convencido de que sua missão na terra é usar o cinema como instrumento para melhorar o mundo. Na adolescência, o garoto foi diagnosticado com uma doença degenerativa, que o levaria á cegueira em pouco tempo. Mas especial do jeito que é, contrariou a lógica da medicina, tornando-se uma aberração positiva da ciência no exato momento em que a doença estagnou de forma inexplicável. Enquanto comanda o último cineclube da cidade de São Paulo e trabalha em uma locadora de vídeos na periferia, ele planeja seu próximo filme, uma obra que vai consagrá-lo. O desafio? Filmar o tal roteiro magnífico, capaz de surpreender o público e conquistar o Cacau de Ouro. O problema é que ele ainda não tem a menor ideia de como fazer isso.

Título: Surpreendente.

Autor: Maurício Gomyde.

Páginas: 272 páginas.

Editora: Intrínseca.

ISBN: 978-85-8057-808-9.

“Pedro se livrou da segurança do mato, seguiu alguns metros, parou à beira do ponto mais alto da cachoeira e olhou em direção ao horizonte. Ao céu do cerrado brasileiro, carregado de nuvens espessas e cinza que emolduravam um quadro assustador, cabia a honra de testemunhar de um ângulo privilegiado a cena que se avizinhava. Com roupas encharcadas, braços abertos e câmera subaquática na mão direita, ele assumia a um só tempo os papéis de diretor, cameraman e ator, para registrar a selfie que eternizaria os últimos instantes de seu mais ambicioso projeto”. 

        Mas como a vida não segue o roteiro, sua perspectiva idealista sofre sérios abalos. Atormentado por um segredo guardado por sua família, ele parte com os amigos em uma viagem até Pirenópolis, Goiás, a bordo de um opala envenenado, o Diabo Loiro. Com câmeras nas mãos e um insaciável espírito de aventura, a equipe improvisada está disposta a usar a criatividade na filmagem desta Road trip ao sabor de encontros inesperados e sentimentos imprevisíveis. E nestas idas e vindas, nas chances dadas e tiradas, aproveitadas ou ignoradas, nosso jovem cineasta vai descobrir que, quando o destino foge do script, nada é capaz de superar o apoio de grandes amigos.

 

“Aqui começa o maior filme de todos os tempos sobre as chances que o mundo coloca na vida das pessoas. Que as lições sejam aprendidas e voltemos milhões de vezes melhores do que quando partimos. Apenas os fortes sobrevivem, porque, mesmo a estrada sendo longa, já dizia o velho poeta: Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como”.

Algumas Impressões 

    Vale fazer trocadilho com o nome do livro? Porque essa história foi verdadeiramente surpreendente. Eu não costumo ler muitos títulos de autores nacionais, mas como falei nas resenhas dos livros da Isabela Freitas (Não se Apega, Não e Não se Iluda, Não), a parceria com a Intrínseca tem derrubado algumas “barreiras literárias” que eu construí ao longo dos anos. Não que eu não gostasse das histórias nacionais, até porque já li os clássicos, mas não era o tipo de livro que me chamava à atenção na hora de escolher a próxima leitura. Este livro chegou como um presente da editora, em uma caixa personalizada com capas de vários filmes icônicos e dois marcadores muito especiais. Assim que li a sinopse me interessei pelo enredo, mas não estava preparada para o que estava por vir. O personagem cativa principalmente por ser tão alcançável e real, mas, ao mesmo tempo, cheio de particularidades (uma aberração positiva da ciência, como ele mesmo costuma dizer). Alguém com objetivos, cheio de sonhos e de chances, buscando levar ao mundo a palavra do Cinema Felicidade. No meio de tudo isso, a trama tem várias reviravoltas, que envolvem o leitor com o drama de Pedro e as decisões: as que ele toma e as que a vida toma por ele. Para além do desfecho, ficam várias reflexões. Sobre a vida, as rasteiras que tomamos e a forma como escolhemos lidar com elas. Sobre as chances que deixamos passar, as que nos são tiradas e as que aproveitamos. Ao mesmo tempo uma história que nos faz pensar “e se fosse comigo?”, mas que consegue ser divertida. Claro que é repleta de clichês, afinal lida com jovens. Mas vale a pena a leitura da história de Pedro, aquele rapaz que ainda acredita no cinema como instrumento de transformação, e que faz da felicidade a principal temática do filme da sua vida.

Sobre a Intrínseca

Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.