Bem ali, naquela parada, tive o insight do que seria o Vamos Juntas? Me unir a outras mulheres para inibir o assédio e qualquer tipo de violência me pareceu um conceito muito simples, mas ao mesmo tempo funcional e libertador. Senti que precisava compartilhar aquela ideia com as minhas amigas. Em questão de segundos já tinha na mente o nome do movimento, as cores que o estampariam e até a descrição: “Já andou sozinha pela rua e se sentiu em situação de risco? A menina que está ao seu lado também”.
Pense na seguinte ideia: quando estiver andando sozinha nas ruas de sua cidade, porque não olha para os lados e procura por outra mulher indo na mesma direção? Que tal irem juntas? Uma ideia que parece simples, mas que só passou a ser colocada em discussão a partir da ideia da jornalista Babi Souza, que resolveu propor no Facebook que as mulheres andassem juntas para evitar ataques e assédios, através da criação do movimento Vamos Juntas?, que, em pouco tempo foi além e hoje é mais um canal para propagar a voz da união feminina por mais segurança e igualdade de direitos. De mãos dadas, vamos mais longe. Nossas vozes se tornam a voz de uma multidão. E aí, vamos juntas?
Título: Vamos Juntas? – O Guia da Sororidade para Todas.
Autora: Babi Souza.
Páginas: 144 páginas.
Editora: Galera Record.
ISBN: 978-85-01-10751-0.
O primeiro obstáculo para entender a sororidade já está no próprio termo. Quando você o procura na internet, os buscadores podem sugerir a palavra “sonoridade” e às vezes o corretor ortográfico dos celulares e tablets também desconhece a grafia. Não rola nem procurar num dicionário de língua portuguesa: nem todos têm a palavrinha. Sororidade vem de “sóror”, que no latim significa “irmã”; é a ideia de um grupo de irmãs, mulheres unidas.
Algumas Impressões
Conheci este projeto ainda no início, quando os primeiros depoimentos começaram a ser publicados na página, e sempre cultivei um carinho muito grande por ele, principalmente pelo que representa frente à constante luta feminista por igualdade de direitos e respeito. Então imagina a minha felicidade quando o carteiro entregou este livro mais do que lindo aqui em casa? Antes de mais nada, quero agradecer ao Grupo Editorial Record pelo presente, que veio acompanhado do livro “O papel de parede amarelo” (Charlotte Perkins Gilman), considerado um clássico da literatura feminista. Agora, voltando ao Vamos Juntas?, a narrativa me cativou desde a primeira página, explicando conceitos, como o da sororidade, e trazendo à tona a discussão do empoderamento feminino, além de explicar o que de fato é – e o que não é – o feminismo. Para a autora, a jornalista Babi Souza, foi um desafio e tanto escrever este livro a tempo de lança-lo no mês da mulher, e ela conseguiu construir este guia maravilhoso de sororidade em apenas dois meses. Neste título incrível, Babi conta a trajetória do projeto e compartilha depoimentos enviados por algumas das milhares de mulheres alcançadas por ele.
Primeiro card divulgado na página do movimento. Reprodução: Facebook.
Apesar de acompanhar o projeto, ainda não conhecia a história da origem do movimento, que nasceu em uma noite, depois de mais um dia cansativo de trabalho, quando a jornalista voltava para casa. Ela precisava cruzar uma rua escura e deserta para chegar a seu destino, e sentiu medo, por estar sozinha e principalmente por ser mulher. Ao olhar em volta, viu que diversas mulheres também caminhavam apreensivas, temendo por sua própria segurança. Foi então que pensou na união como uma forma de inibir a violência contra a mulher nas ruas, e ali nasceu o movimento Vamos Juntas?, que incentiva as mulheres a oferecer companhia e apoio umas às outras e a lutar contra o machismo e a opressão. O sucesso foi tanto que, em menos de uma semana, a página oficial no Facebook já contava com milhares de curtidas, e, todos os dias, recebia um número espantoso de depoimentos de meninas e mulheres que, ou haviam colocado a ideia em prática, ou procuravam a página para contar suas histórias de abuso e violência sexual, em busca de apoio. Em vários momentos durante a narrativa, me senti extremamente indignada com relação à sociedade em que vivemos e como ela ainda lida - de forma um tanto primitiva - com temas como a violência contra a mulher.
A ideia encantadora de empoderarmos a nós mesmas e às mulheres que estão a nossa volta é um exercício que desafia as relações patriarcais em que o homem é tido como um ser privilegiado e detentor do poder. Cada atitude de empoderar umas às outras contribui para uma sociedade mais igualitária e é uma ferramenta poderosa para que no futuro nossas filhas ou filhas de nossas amigas tenham tanta liberdade e oportunidades quanto os filhos. Logo, empoderamento e sororidade são irmãs girlpower e inseparáveis.
O trabalho de pesquisa para construir este enredo foi fantástico por parte da autora, que revelou dados mais do que preocupantes sobre o número de mulheres violentadas no país por dia, isso sem contar os casos que não são registrados pelas autoridades. Ontem mesmo li uma reportagem sobre um caso de violência na Inglaterra, onde uma jovem, que estava prestes a ser estuprada por um homem, se defendeu usando o que tinha à mão: as chaves de casa (clique aqui para ler a notícia). Ela conseguiu escapar, e o agressor foi preso. Por mais que eu já me mantivesse atenta a casos como este, aos movimentos existentes no país, e aos conceitos que permeiam esta narrativa, como feminismo, empoderamento, sororidade e girlpower (que até mesmo o Word desconhece e que, enquanto escrevo esta resenha, está tentando me corrigir), ainda fiquei surpresa com o que o manual apresentou. E triste. Mas, ao mesmo tempo, este guia renovou minhas forças para continuar lutando por um futuro mais justo e igualitário, e também mais seguro para nós, mulheres, além de abrir meus olhos (mais uma vez) para a mulher ao lado. Quando ela está forte, eu estou forte, e juntas podemos mais. E aí, vamos juntas?
Uma empresa 100% nacional: o maior conglomerado editorial da América Latina fala português. Com onze perfis diferenciados — Record, Bertrand Brasil, José Olympio, Civilização Brasileira, Rosa dos Tempos, Nova Era, Difel, BestSeller, Edições BestBolso, Galera & Galerinha — o objetivo é sempre trazer o que há de melhor para o leitor brasileiro.
Adorei a resenha Letícia e já me ocorreu um fato de eu e uma mulher, voltando tarde para casa, eu do cursinho e ela provavelmente do trabalho, andarmos juntas na rua, mesmo sem nos conhecer, por conta que alguns homens estranhos que ali estavam.
ResponderExcluirhistoriasdeumamenteinquieta.blogspot.com
Obrigada! <3 Pois é, antes de conhecer o projeto eu também pensava desta forma e nem me dava conta das situações. Logo depois que tomei conhecimento da iniciativa passei a prestar mais atenção e a reconhecer estes momentos com maior frequência. Sororidade <3 Um beijo : *
ExcluirNossa, que legal que saiu um livro sobre esse projeto. Eu acompanhei ele no começo e achei muito legal a iniciativa da Babi, pois a união faz a força, né? Ou algo assim, rs.
ResponderExcluirBeijos ♥
Né? Eu nem sabia, mas achei o máximo quando a editora enviou ele aqui pra casa! Também acompanhei o projeto da Babi desde o começo, e apesar de parecer uma iniciativa simples, faz muita diferença <3 Um beijo : *
ExcluirEu preciso ir amanhã na livraria comprar esse livro. Já conhecia o Vamos Juntas, e também já tinha ouvido falar no livro, mas sua resenha esclareceu vários pontos que eu não sabia. Eu não suporto a ideia de pensar que muitas mulheres rejeitam o feminismo justamente por não conhecerem o movimento, ouvir meias palavras errôneas. Espero que com esse livro isso mude, e a sororidade fique cada vez mais clara e efetiva. Juntas, sempre, podemos mais.
ResponderExcluirUm abraço! <3
www.saborabsinto.com.br
Se eu já não tivesse este livro em mãos estaria com o mesmo sentimento! Eu conheci o projeto no começo, mas nem sabia que seria lançado em livro. Também não acho nada legal a ideia de pensar que muitas rejeitam o feminismo por não conhecerem o que de fato ele representa e defende, o que de fato ele é. Mas também tem a questão do conhecimento né, se você não o quer, não vai atrás. Isso me deixa triste, mas espero que iniciativas como esta da Babi possam mudar este quadro e que, cada vez mais, possamos ir juntas rumo às conquistas. Um beijo <3
ExcluirAmo esse projeto, alias o pratiquei bastante e além de fazer novas amizades, tanto eu quanto as outras mulheres nos sentimos mais seguras! Eu quero esse livro, quero descobrir como começou tudo e cada detalhe, mas confesso que essas pesquisas que revelam um numero alarmante de estrupo e agressões me deixam na bad master. Mas se renovou suas forças para continuar lutando, talvez renove as minhas também!
ResponderExcluirHurricane Stars
É legal quando colocamos o projeto em prática e conseguimos ver o alcance que ele tem né? O quanto muda nossas vidas e o modo de pensar apesar de parecer uma iniciativa tão simples. Esse livro é ótimo e eu super recomendo! Um beijo : *
ExcluirQue lindo! Eu já havia visto algo a respeito disso, mas não fazia ideia de que era um movimento e que principalmente tinha um livro a respeito. Eu simplesmente adorei a ideia, o bairro onde eu moro o ponto de ônibus mais perto fica há 15 minutos da minha casa, mas é um ônibus que demorar uma vida e o ponto para o outro ônibus que é mais rápido fica há um quilometro de onde eu moro, tem vezes que é assustador andar sozinha em trechos onde nem casa tem! Só tem mato e dá medo cada vez que uma moto ou carro passa pela rua e mexe comigo, eu tenho vontade de chorar de alivio quando vejo pessoas circulando pela rua, principalmente pessoa que conheço.
ResponderExcluirUma vez, isso de noite, eu e meu pai ficamos com um menina no ponto de ônibus esperando o pai dela chegar para pega-la, porque o ponto é outro lugar perigoso, fica em uma esquina onde a luz fica falhando, ou seja, fica escuro pra caramba, não tem muitos portões por perto, pra ser assaltado ou coisa pior acontecer ali é fácil, então sempre que vejo que alguém está ficando pra trás, mesmo que seja um garoto, eu e meu pai esperamos a pessoa que está vindo buscar o outro chegar.
Esse movimento tem tudo pra dar certo e ajudar muitas mulheres :)
Que ponto de ônibus longe! Meu Deus do céu! Uma frase que você disse me chamou a atenção porque eu e muitas outras mulheres sentimos a mesma coisa, a questão de que "andar sozinha muitas vezes é assustador". É uma realidade triste, mas justamente a que o movimento tenta combater, usando da união feminina como uma arma contra os assédios e a violência. Eu passei a prestar mais atenção a isso depois que conheci o movimento, e ainda mais quando terminei a leitura deste livro. Os números que as pesquisas revelam são muito assustadores e revoltantes, mas ainda tenho esperança de que podemos e vamos mudar esta realidade <3 Um beijo : * P.S. Amo seus comentários gigantes <3
Excluir