“Deuses Americanos é, na verdade, uma história sobre a alma dos Estados Unidos. Sobre o que as pessoas levaram para lá; sobre o que acharam lá quando chegaram; e sobre as coisas que ficaram adormecidas debaixo de tudo isso (Neil Gaiman) ”.
Sinopse: “Depois de três anos atrás das grades, o momento pelo qual Shadow tanto esperou se aproxima. Logo ele retornará para casa e para a esposa, pronto para começar uma nova vida. No entanto, poucos dias antes de ser liberado, a vida de Shadow sofre mais uma reviravolta. Sem lar e sem rumo, ele aceita trabalhar para um homem enigmático chamado Wednesday. Trapaceiro e traiçoeiro, Wednesday parece saber mais sobre Shadow do que ele próprio. Os dois embarcam em uma viagem sombria e estranha pelos recantos dos Estados Unidos em busca de aliados para uma guerra entre deuses velhos e novos – uma guerra pelo poder de não ser esquecido. Ao longo do caminho, Shadow descobre que seu destino pode estar mais interligado ao dos deuses do que ele imaginava. Mitologia, magia e mistério se juntam nesta narrativa profunda e poética que mostra porque Neil Gaiman é um dos autores mais versáteis e aclamados da atualidade”.
Título: Deuses Americanos.
Autor: Neil Gaiman.
Páginas: 574 páginas.
Editora: Intrínseca.
ISBN: 978-85-510-0072-4.
“Todas as horas ferem. A última mata. Onde tinha ouvido isso? Não lembrava mais. Sentia, em algum lugar bem no fundo, um acúmulo de raiva e dor, um nó de tensão na base do crânio, uma pressão nas têmporas. Inspirou pelo nariz, soltou o ar pela boca, obrigou-se a relaxar. Pensou no comentário de Wednesday e sorriu, mesmo sem vontade. Já ouvira gente demais falando que não se podia reprimir os sentimentos, que era preciso dar vazão às emoções, deixar a dor sair. Shadow achava que reprimir as emoções trazia muitas vantagens. Acreditava que, se os sentimentos ficassem enterrados por tempo suficiente e a uma profundidade suficiente, logo não sentiria mais nada”.
Algumas Impressões
Neil Gaiman é definitivamente um dos autores que entrou para a lista dos favoritos nos últimos anos. E não só para a minha, mas para a de muitos leitores. Com uma escrita irreverente, original e versátil, Gaiman conquista com suas tramas intrincadas, criativas e complexas, frutos de pesquisas extensas e detalhadas. Quando vi que a Editora Intrínseca lançaria a “edição preferida do autor” do clássico “Deuses Americanos”, que inclui conteúdo extra e um texto mais extenso do que o da edição de 2001, passei por um misto de sentimentos. Por um lado, queria muito mergulhar neste enredo criado pelo criador de Sandman, e, por outro, tinha receio de não me envolver com a trama o suficiente e este recém descoberto amor por Gaiman se perder – porque, alguns leitores afirmam que a relação com ele é extrema: de amor ou ódio. Contudo, resolvi arriscar e solicitei o título, que é uma das obras mais comentadas de Neil Gaiman desde que chegou às livrarias pela primeira vez, ainda em junho de 2001. Com uma capacidade absolutamente fantástica de dar vida (e voz) aos mais diversos mitos, ele humaniza – seja através da inserção em nosso contexto social ou através da associação -, os variados personagens mitológicos de forma que nos torna praticamente incapazes de diferenciá-los de nós mesmos. Suas histórias nos aproximam do intangível e do inimaginável. Com uma miscelânea de deuses velhos e novos, frutos de uma sociedade do consumo e da ausência de limites, uma nova mitologia é criada, desafiando nossa percepção ao mesmo tempo em que tece uma crítica sobre os rumos de nossa existência.
“Ele chegou à conclusão de que, para aqueles que não tinham sido condenados à morte, a cadeia era, na melhor das hipóteses, apenas um retiro temporário da vida – e por dois motivos. Primeiro, porque a vida se esgueira para dentro da cadeia. Sempre há lugares que podem ser explorados, mesmo quando o indivíduo é retirado de seu contexto habitual; a vida segue, mesmo se for uma vida escrutinada, uma vida atrás das grades. E, segundo, porque se o detento aguentar firme, algum dia alguém vai ter que soltá-lo”.
Em essência, uma obra difícil de se ler e resenhar, mas que, uma vez domadas as contradições iniciais e contestadas as questões inerentes às nossas próprias crenças e conhecimentos, apresenta todo um novo mundo (ou seria uma nova face dos Estados Unidos da América e suas muitas particularidades?), com uma trama que nos desafia a descobrir seus segredos. Nada linear, os capítulos são narrados em sua maioria por nosso personagem principal (e guia nesta jornada), Shadow, que, após passar três anos na cadeia, só desejava voltar para casa e seguir sua vida ao lado da esposa. Entretanto, pouco antes de ser libertado, uma nova “tempestade” o alcança, e ele se vê sem rumo ou perspectivas. Neste cenário nada promissor, ele encontra um excêntrico senhor chamado Wednesday, que, além de misterioso e com ares de trapaceiro, parece saber mais sobre Shadow do que ele mesmo. Além disso, a obra conta com textos auxiliares entre os capítulos, que, além de contribuírem para o entendimento geral da narrativa, apresentam visões do passado e do presente através de uma “perspectiva de expectador”. A cada nova descoberta do personagem, somos levados a refletir com ele e a tentar apreender os significados intrínsecos em cada revelação. Quando a trama finalmente encontra seu mais importante plot twist, fiquei completamente abismada, com uma verdadeira sensação de que as peças estavam se encaixando - e isso é absolutamente maravilhoso. Eu não esperava, e no inesperado, Gaiman me ganhou para sempre. Se você busca tramas que fogem completamente ao lugar comum e que prometem desafiar sua percepção durante a leitura, além de mitos dos mais variados e um bom e velho enredo ao estilo “road trip”, vai gostar de “Deuses Americanos”. E garanto que quando alguém lhe perguntar ou pedir que descreva a criação de Gaiman, só o que conseguirá dizer é “Olha, é complicado descrever... Mas é simplesmente genial”.
Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.
égua, vacilei, fui na livraria e fiquei tentada a trazê-lo [meu ex sogro é americano, seria um presente] acabei ficando curuiosa sore a narrativa. se pá, vou lá semana que vem e trago p mim kkk
ResponderExcluiradorei seu espaço.
xero
Desconstruindo blog
Eu estava há um bom tempo para pegar este livro para ler também. Na época do tcc me indicaram. mas eu estava lendo tanta coisa que nem deu tempo. E olha, valeu a pena demais esperar por essa edição! Vai gostar <3 Um beijo e muito obrigada <3
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