Resenha: Eu Estou Pensando em Acabar com Tudo

“Eu estou pensando em acabar com tudo. Quando este pensamento chega, ele fica. Gruda. Perdura. Domina. Não há muito o que eu possa fazer. Confie em mim. Não vai embora. Fica lá, quer eu goste ou não. Está lá quando eu como. Quando vou me deitar. Está lá quando durmo. Está lá quando acordo. Está lá. Sempre”.

Sinopse: “No romance de estreia do canadense Iain Reid, Jake conduz o carro em que ele e a namorada, que narra a história, vão à fazendo dos pais do rapaz. Durante a longa viagem por estradas desertas e escuras, a garota, atormentada com a perseguição de um homem misterioso que deixa sempre a mesma mensagem de voz em seu telefone, pensa em encerrar o relacionamento com Jake. Mas talvez seja tarde demais. Reid, que tem dois livros de não ficção elogiados pela crítica e contribui para veículos de prestígio como a revista New Yorker, une, numa narrativa profundamente psicológica, tanto referências de terror clássico quanto elementos de suspense menos tradicionais, sustentando a trama para além das limitações inerentes do gênero. Um thriller denso que esconde, em meio ao medo provocado pela sensação de uma tragédia iminente, alegorias sobre a própria vida ser uma tragédia anunciada”. 

Título: Eu estou pensando em acabar com tudo. 

Autor: Iain Reid. 

Páginas: 224 páginas.

Editora: Fábrica 231 (Rocco). 

ISBN: 978.856.843.296-9.

 

“Individualmente nós dois somos espetaculares. Parece digno de nota. Combinando nossos ingredientes, a altura esguia do Jake com minha pequenez aberta não fazem sentido. Sozinha na multidão eu me sinto condensada, negligenciável. Jake, apesar da altura, também se mistura à multidão. Mas, quando estamos juntos, noto que as pessoas olham para nós. Não para mim ou para ele: nós. Individualmente, eu me misturo. Ele também. Como um casal, nós nos sobressaímos”.

Algumas Impressões 

        Logo que recebi a News da Rocco este livro me chamou a atenção, tanto pela capa quanto pela sinopse – tudo extremamente obscuro e misterioso. Lançado em fevereiro, “Eu estou pensando em acabar com tudo”, do autor Iain Reid, não pode ser definido por outra coisa senão perturbador. Permeado por uma aura de mistério, suspense e perigo, o enredo envolve, e quando dei por mim já tinha concluído suas pouco mais de duzentas páginas. É uma daquelas tramas que, mesmo que você acredite que já sabe do que se trata e o que está acontecendo, sempre tem uma informação para acrescentar, uma memória, uma descoberta ou mesmo uma conversa que muda tudo. A premissa é simples: um casal está viajando de carro para visitar os pais do rapaz, Jake, e a namorada, que narra a história, está pensando em terminar o relacionamento. Ao longo da viagem, eles têm conversas complexas e que à primeira vista podem parecer sem propósito, tecendo reflexões sobre a vida, segredos, inteligência e relacionamentos. Por outro lado, a garota se sente perturbada e amedrontada por causa do Chamado, um estranho que há tempos vem ligando para ela e deixando mensagens misteriosas. Quando menos se espera, você já está imerso (a) e até com medo, analisando cada palavra, cada detalhe que possa ter deixado passar, em busca de uma pista que possa revelar o que de fato está acontecendo / vai acontecer. O que está errado além do fato de a narradora estar pensando em “acabar com tudo”? A questão é que a cada novo capítulo o suspense aumenta, e a sensação é a de que você está sempre um passo mais distante de descobrir o que aconteceu. Tantas peculiaridades estranhas que juntas formam um cenário assustador. Por mais que novas suposições acerca do desfecho sejam tecidas a cada nova página, acredite em mim quando digo que você nunca imaginaria o final desta história original e que foge completamente dos clichês aos quais estamos acostumados. Utilizando de um artifício semelhante ao que Gillian Flynn (autora de Garota Exemplar) usa constantemente em suas obras, Reid traz personagens não totalmente desenvolvidos, o que colabora com o clima de suspense e faz com que, justo por não saber tanto, o leitor queira saber sempre mais.

“Como sabemos quando algo é ameaçador? O que nos dá a dica de que algo não é inocente? O instinto sempre vence a razão. De noite, quando acordo sozinha, a lembrança ainda me aterroriza. Quanto mais velha eu fico, mais isso me assusta. Cada vez que me lembro, parece pior, mais sinistro. Talvez cada vez que me lembre disso, eu faça ser pior do que era. Não sei”.

       A leitura é dinâmica e cativante, e o autor soube mostrar as memórias e apresentar os fatos de maneira brilhante, mantendo a atenção do leitor e mesmo assim o surpreendendo ao manter sempre o clima de suspense e tensão. O final é revelador, chocante. Não exatamente preciso, mas que mostra o que aconteceu – e isso faz sentido – e deixa os detalhes à cargo do leitor, sua imaginação e os detalhes que apreendeu durante a experiência de leitura. E a leitura é tão rápida que li em apenas um dia, mas é um daqueles títulos que você pensa que seria interessante ler mais uma vez, só para ter certeza de que não deixou passar nada. É intrigante. Fiz a experiência de, após concluir o último ponto final, voltar em algumas partes e retomar a leitura. Só neste momento é que compreendi melhor a verdade por trás da narrativa. As partes que apresentam diálogos entre investigadores podem parecer avulsas à primeira vista, mas quando você finalmente descobre o que aconteceu fica com aquela sensação de “como não pensei nisso antes”. A resposta é: original e diferente, sem nenhum medo de assustar os leitores, Iain Reid criou um enredo sem precedentes. A frase de divulgação do livro é “Você sentirá medo, mas não saberá dizer por quê”, e agora entendo perfeitamente o marketing. No mais, a edição está absolutamente fantástica, com uma pegada dark que auxilia no clima de mistério e até terror deste thriller com quê de romance policial – mas que não tem tanto romance assim. “Eu estou pensando em acabar com tudo” é uma trama capaz de intrigar ao ponto de não sair da sua mente por dias, semanas. É aquele livro que, durante a leitura, toma seus pensamentos a todo momento, faz com que crie teorias e faça reflexões. Mas que no fim só mostra sua incapacidade de prevê-lo. Pois é isso que ele é: imprevisível e obscuro, perturbador e misterioso. De fato, eu senti medo mesmo sem saber dizer o porquê.

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