terça-feira, 4 de julho de 2017

Resenha: A Busca Sofrida de Martha Perdida


“Creio em tudo até que seja provado o contrário. Então creio em fadas, mitos, dragões. Tudo existe, mesmo se for só na sua mente. Quem pode dizer que sonhos e pesadelos não são tão reais quanto o aqui e agora? (John Lennon) ”. 

Sinopse: “Martha está perdida. Ela esteve perdida desde que era apenas um bebê, abandonada em uma mala dentro do trem que ligava Paris a Liverpool; e, desde então, Martha aguarda na Estação Lime Street, na loja de achados e perdidos, que alguém venha buscá-la. Isso faz dezesseis anos, mas ela continua confiante. Obrigada por sua nova “Mãe” – a dona da loja de achados e perdidos que a adotou porquê não tinha outra opção – a trabalhar e atender os passageiros da estação, Martha se envolve em alguns mistérios: uma mala que talvez tenha pertencido aos Beatles, túneis secretos embaixo da estação, um soldado romano que aparece todos os dias às 17h37 em pleno ano de 1976; sem mencionar a maldição que envolve a própria Martha: ela nunca pode deixar a estação de trem em Liverpool, do contrário o lugar desabará. O maior de todos os mistérios tem um prazo urgente para ser solucionado: Martha anda recebendo cartas anônimas de alguém que sabe quem ela realmente é, e ela precisa de uma nova resposta para não se perder novamente”. 

Título: A Busca Sofrida de Martha Perdida (Um conto de fadas para adultos).
Autora: Caroline Wallace.
Páginas: 304 páginas.
Editora: Fábrica 231.
ISBN: 978-85-9517-006-3.


“Li em algum lugar que a maioria das crianças de quatro anos sorri quatrocentas vezes por dia, mas então, quando se tornam adultas, apenas sorriem vinte vezes por dia. Não tenho certeza de que quero ser adulta”. 

Algumas Impressões 

É estranha a relação que temos com alguns livros, a forma como eles nos cativam e passam a ser parte de nossa memória. Particularmente, seja por ler muitos livros ou por me identificar com os mais diversos gêneros, alguns dos títulos que chegam por aqui tornam-se assuntos de conversa por muito tempo, e sinto uma necessidade incontrolável de falar sobre eles para o maior número de pessoas possível (e graças a Deus que tenho o Fleur para isso). A história de “A Busca Sofrida de Martha Perdida” chamou minha atenção ainda na News da Editora Rocco, e algo me dizia que ela entraria para o hall das inesquecíveis / assuntos de conversa logo de cara. Martha, uma garota de dezesseis anos, vive seu próprio conto de fadas nesta trama de pouco mais de trezentas páginas, mas ele é completamente diferente do que se poderia imaginar. Para começar, a história de sua vida já começa na Parte Cinco, seu sobrenome é realmente “Perdida” e tudo o que ela conhece é a estação de trem onde vive, Lime Street, em Liverpool. Abandonada ainda bebe na estação e resgatada pela “Mãe”, uma mulher extremamente religiosa e intolerante (uma fanática), ela vive e trabalha no escritório de achados e perdidos, e tem sua vida controlada pela mal-humorada mulher. Considerada o “pássaro Liver” da estação, ela nunca pode deixar o lugar, pois, segundo a história contada pela “Mãe”, algo muito ruim aconteceria ao lugar caso Martha fosse embora. Muito apegada aos livros e com um dom especial para cativar quem quer que seja, um belo dia ela recebe uma carta em seu nome – o que, por si só já é uma novidade e tanto -, e vê sua vida mudar drasticamente de uma hora para a outra, com o grande mistério que é seu passado ficando cada vez mais perto de ser revelado. Ao mesmo tempo em que Martha tenta desvendar o começo deste “Era uma vez”, uma mala perdida com memorabília dos Beatles está deixando todos em Liverpool em polvorosa – e tudo isso pode ter alguma ligação (ou não, quem sabe?) com a história da garota. 


“- Por noventa dias, todos os dias esperei para ver se alguém iria procurar você. Você esperou naquela prateleira. – A Mãe se inclina levemente à frente, aponta para um conjunto de prateleiras de metal perto da entrada de vidro do escritório. – Ninguém quis você, então eu te peguei. Paguei a taxa. Você foi meu presente de Deus. – A Mãe faz o sinal da cruz. Eu suspiro”. 

Com uma carga emocional gigante e um potencial absurdo para envolver o leitor mais e mais a cada página, é difícil não sentir empatia pela personagem, dotada de pureza, sabedoria, e também altruísmo extraordinários que a tornam muito cativante – tudo isso apesar de ter sido uma garotinha muito solitária e infeliz, uma vez que Martha aprendeu a valorizar o pouco que tem e a perceber que a verdadeira felicidade pode ser encontrada mesmo nos lugares mais escuros. E, neste momento, preciso fazer uma confissão: lembra quando falei sobre as leituras que nos envolvem e permanecem conosco muito tempo depois que a última página for lida, e o livro, fechado? Este livro trouxe momentos que me encheram de raiva e medo, principalmente pela vida de Martha, e levantou de modo sutil, porém determinado, questões como o abuso psicológico. Criada como inúmeras restrições, em uma rotina regida pela cobrança e os insultos de que ela não era grata o bastante, somado ao fato de ser explorada pela Mãe e apanhar constantemente mesmo por fazer as perguntas mais simples... isso me enfureceu muito, principalmente no começo da leitura (fato que me fez pausá-la algumas vezes). Contudo, como numa jornada do herói regida pelo sofrimento e pelas provações – mas que, no fim, oferece sua recompensa -, a trama não me decepcionou no que concerne ao desfecho dos personagens. 


Paralela à história da protagonista, ainda temos como parte do enredo uma sub trama sobre a mala perdida de Mal Evans – ex-roadie dos Beatles -, que, em dado momento, acaba se ligando à trama de Martha e criando uma conexão interessante, surpreendente e peculiar. Além disso, Caroline Wallace ainda nos brinda com diversas informações sobre a banda, além de outros cantores e músicas de sucesso das décadas de 60 e 70 (um período que, devo dizer, é um dos meus favoritos no quesito música). Como fã, foi uma experiência e tanto ver algo que tanto gosto inserido de modo tão inusitado e original em uma trama. Como disse, quando iniciei a leitura, algumas das cenas me frustravam a ponto de me fazer interromper a leitura, mas isso é mais uma questão pessoal do que qualquer problema na narrativa ou no ritmo do livro, que são muito bons, obrigada. “A Busca Sofrida de Martha Perdida” trata sim sobre uma busca, mas não é apenas repleta de mistérios que parecem envolver todos os seus personagens (complexos e intrigantes). Fala sobre cicatrizes que demoram a se curar ou que às vezes nem se curam, sobre esperança, amor, amizade. Discorre também sobre a bondade intrínseca aos pequenos gestos, e sobre a família, principalmente sobre a família. O plot twist apresenta uma reviravolta tão intensa que por pouco não fiquei sem fôlego, mas no fim, fez tudo valer a pena. Cada momento, cada página, e até mesmo cada lágrima (confesso que posso ter derramado uma ou duas, coisa pouca). É uma história maravilhosa e muito recomendada. 

Sobre a Editora Rocco
Há mais de três décadas demonstrando sensibilidade para detectar as tendências do mercado, ousadia na difusão de novas ideias e agilidade de produção, a Rocco se orgulha por ser uma editora sólida e independente, capaz de se reinventar a cada dia para atender aos anseios do público brasileiro. Seus selos são: Rocco, Rocco Jovens Leitores, Rocco Digital, Bicicleta Amarela, Fábrica 231, Fantástica Rocco, Anfiteatro e Rocco Pequenos Leitores.


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