“Desde que me entendo por gente, meus dedos coçam procurando coisas para fazer. Gosto de escrever. Já completei vários diários, escrevi fanfics e me refugiei muitas vezes em páginas sobre a vida de outras pessoas. Se meu pai tinha razão quando disse que eu podia fazer o que quisesse, ser quem eu quisesse, meu plano é escrever um seriado como Starfield e mostrar a outras crianças esquisitonas que elas não estão sozinhas”.
Sinopse: “Quando Elle Wittimer, nerd de carteirinha, descobre que sua série favorita vai ganhar um remake hollywoodiano, ela fica dividida. Antes de morrer, o pai a contagiou com uma verdadeira paixão por aquele clássico da ficção científica, e agora ela não quer que as suas lembranças sejam arruinadas por astros pop e fãs que nunca tinham ouvido falar da série. Mas, quando a produção do filme anuncia um concurso de cosplay que terá como prêmio um convite para um baile com o ator principal, Elle não consegue resistir. Na Abóbora Mágica, o food truck vegano onde trabalha, ela encontra a ajuda de uma amiga talentosa que vai criar o traje perfeito para a ocasião. Afinal, o concurso é a chance de Elle se livrar das tarefas domésticas impostas pela terrível madrasta e das malvadas irmãs postiças. Por outro lado, Darien Freeman, o astro adolescente escalado para ser o protagonista do filme, não está nada ansioso para o evento. Embora interpretar Carmindor, o príncipe da Federação, grande herói de Starfield, seja seu grande sonho, Darien sabe que o fandom da série acha que ele é só mais um rostinho bonito, indigno de representar um papel tão importante, e seu próprio nerd interior parece concordar com isso. Até que, no baile, ele conhece uma menina que vai provar o contrário... Parte romance, parte homenagem à cultura nerd, Geekerela é um conto de fadas para todos aqueles que sabem o que é ser fã e se dedicar de coração àquilo que amam”.
Título: Geekerela.
Autora: Ashley Poston.
Páginas: 384 páginas.
Editora: Intrínseca.
ISBN: 978-85-510-0214-8.
“Não vejo a hora de Scotty me teletransportar de volta para a nave. Ah, e tem esse detalhe. Sei que não sou o primeiro jovem ator a pegar o papel de um personagem já amado pelo público. Com certeza algumas pessoas não gostavam do Chris Pine, que fez o Kirk 2.0. Mas meu caso é diferente. Tenho dezoito anos, e Chris tinha vinte e poucos. Teve tempo de aprender a não se importar tanto. Ainda me preocupo em usar os pares corretos de meia e em tomar cuidado para não mostrar minhas cuecas com estampa de Star Wars”.
Algumas Impressões
Você com toda a certeza já ouviu a história da Cinderela, não é mesmo? Era uma vez uma garota gentil e amável, que, após perder o pai, é obrigada a viver como uma criada de sua madrasta e das duas irmãs postiças. Até que um grande baile no castelo é anunciado para a escolha da nova princesa, ela é deixada em casa, a Fada Madrinha aparece e lhe dá uma carruagem de abóbora e um belo vestido com sapatinhos de cristal para combinar. E o final você também já conhece, certo? Pois em “Geekerela”, um dos destaques do gênero infanto-juvenil da Editora Intrínseca este ano, a história se repete, mas com algumas modificações... Elle Wittimer é uma nerd de carteirinha, que herdou do pai a paixão pela série de ficção científica Starfield. Ela trabalha em um food truck de comida vegana chamado “A Abóbora Mágica” e não vê a hora de completar dezoito anos para se ver livre das tarefas domésticas impostas pela madrasta e suas duas irmãs postiças, as gêmeas ~vlogueiras~ do mal. Quando um remake hollywoodiano de sua série favorita é anunciado, o maior medo de Elle é que suas lembranças do pai sejam arruinadas, e que a reputação da produção clássica seja manchada para sempre por conta de astros pop e “fãs” que nunca haviam ouvido falar de Starfield. Acontece que, quando um concurso de cosplay é anunciado na famosa ExcelsiCon, a convenção nerd que seu próprio pai ajudou a fundar, anos antes, a garota vê a oportunidade de honrar a memória dos pais e, de quebra, se ver livre da madrasta caso garanta o primeiro lugar. E, por mais que pense que está sozinha nessa jornada, Elle vai encontrar ajuda vinda do lugar mais inusitado, e crer mais do que nunca que, para alcançar seus objetivos, basta “apontar para as estrelas, mirar e disparar”.
“Meus pais se conheceram em uma fila de autógrafos, mais de vinte anos atrás. Reza a lenda que, enquanto esperavam para ver o elenco – David Singh, Ellen North, Carl Thompson e Kiki Sanchez, respectivamente Carmindor, Amara, Euci e CLE-o originais – minha mãe puxou papo com meu pai, sorrindo: “Ouvi dizer que a vista da plataforma de observação é bem bonita nesta época do ano”. E foi assim. Juntos, eles eram insuperáveis”.
Por outro lado, o jovem ator Darien Freeman, um dos maiores astros adolescentes da atualidade, está completamente apavorado com a ideia de interpretar nos cinemas Carmindor, o príncipe da Federação e protagonista do seriado. Por mais que pareça apenas mais um “rostinho bonito”, Darien é, na verdade, um grande fá de Starfield, e seu grande sonho sempre foi interpretar o personagem. Mas ele sabe que não será uma tarefa nada fácil convencer o fandom, os Pistoleiros Estelares, de que está à altura do papel – além de convencer a si mesmo de que pode fazer um bom trabalho representando alguém tão importante. Como se já não bastassem suas inseguranças, ele descobre que terá de fazer parte da ExcelsiCon - lugar que jurou não voltar desde o incidente com seu antigo melhor amigo -, como jurado do concurso de cosplay. Não será uma tarefa nada fácil enfrentar a rotina de gravações, o assédio das fãs e os comentários dos haters, e ele não está nem um pouco animado para os milhões de compromissos e privações impostas por seu empresário. Tudo o que consegue pensar é que precisa seguir em frente, provar seu valor, “apontar para as estrelas, mirar e disparar”. De uma forma inusitada e muito divertida, Elle e Darien vão descobrir que possuem muito mais em comum do que poderiam imaginar...“era uma vez uma fã, um ator e um clássico de sci-fi”.
Com um misto gostoso de romance e homenagens diversas à cultura nerd, “Geekerela” foi um dos livros mais legais que li nos últimos tempos. Ashley Poston entrega uma narrativa fluída e cativante narrada em primeira pessoa, e que intercala os pontos de vista de Elle e Darien, facilitando a identificação de um público muito maior. Se por um lado temos as típicas inseguranças da adolescência, como a preocupação com o futuro profissional e a sede por liberdade, por outro temos dramas muito mais complexos, como as inseguranças em relação à nossa própria capacidade, o ódio gratuito e o bullying, representatividade, empoderamento e opção sexual, e a perda de entes queridos. Através da presentificação de um clássico dos contos de fadas infantis, a autora cria uma história reflexiva, divertida e cheia de significado, principalmente para os que, assim como eu, não dispensam uma boa nerdice. Durante a leitura, me identifiquei muito com a Elle, tanto pela história pessoal quanto pelo amor às tramas de ficção científica, e, de certa maneira, me senti extremamente representada pela personagem. Além disso, a forma como as histórias de Darien e Elle acabam se cruzando é muito original, e foi interessante acompanhar o crescimento do jovem ator ao longo da narrativa. As claras referências a Star Trek (que, se você reparar, é a grande inspiração de Starfield) também conquistaram o meu coração, além das citações a atores, personagens de quadrinhos (Santa referência Batman!) e produções cinematográficas recentes. “Geekerela” foi um dos livros mais comentados no estande da editora na Bienal do Livro, e, seja você alguém que é nerd em tempo integral, fã de uma série ou outra ou apenas que não dispensa uma boa referência, é uma leitura mais do que recomendada. Afinal, para alcançar seus sonhos, basta “apontar para as estrelas. Mirar. Disparar”.
Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.
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