sábado, 2 de junho de 2018

Resenha: É Assim Que Acaba

“Não existem pessoas ruins. Todos nós somos humanos e, às vezes, fazemos coisas ruins”. 

ATENÇÃO: Pode conter spoilers devido a minha revolta.

Sinopse: “Às vezes, a pessoa que você mais ama é quem mais te machuca. Lily nem sempre teve uma vida fácil, mas isso nunca a impediu de trabalhar arduamente para conquistar a vida tão sonhada. Ela percorreu um longo caminho desde a infância, em uma cidadezinha no Maine: se formou em marketing, mudou para Boston e abriu a própria loja. Então, quando se sente atraída por um lindo neurocirurgião chamado Ryle Kincaid, tudo parece perfeito demais para ser verdade. Ryle é confiante, teimoso, talvez até um pouco arrogante. Ele também é sensível, brilhante e se sente atraído por Lily. Porém, sua grande aversão a relacionamentos é perturbadora. Além de estar sobrecarregada com as questões sobre seu novo relacionamento, Lily não consegue tirar Atlas Corrigan da cabeça – seu primeiro amor e a ligação com o passado que ela deixou para trás. Ele era seu protetor, alguém com quem tinha grande afinidade. Quando Atlas reaparece de repente, tudo que Lily construiu com Ryle fica em risco. Com um livro ousado e extremamente pessoal, Colleen Hoover conta uma história arrasadora, mas também inovadora. Uma narrativa inesquecível sobre um amor que custa caro demais”. 

Título: É Assim Que Acaba. 
Autora: Colleen Hoover. 
Páginas: 368 páginas. 
Editora: Galera Record. 
ISBN: 978-85-01-11251-4. 

"Sinto a voz dele em meu estomago. Isso não é bom. Vozes deviam parar nos ouvidos, mas as vezes – isso não acontece sempre, na verdade – a voz passa pelos meus ouvidos e reverbera diretamente pelo meu corpo".

Algumas Impressões 


Eu nunca havia lido um livro de Colleen Hoover, considerada por muitos uma das melhores autoras de romance da atualidade, mas não por falta de recomendações. Claro que já ouvi falar sobre obras como “O Lado Feio do Amor”, “Um Caso Perdido” e “Novembro, 9”, mas o desejo de fazer a leitura e conhecer a narrativa de Colleen ainda não tinha despertado. Até que através da parceria com a Galera Record, seu mais novo lançamento, “É Assim Que Acaba”, chegou por aqui, e, apesar de todo o hype dedicado à escritora, confesso que comecei esta leitura um tanto desanimada, e quando terminei - há vários dias atrás -, tive que refletir por um tempo antes de escrever minha opinião sobre a trama, que já adianto ser extremamente emocional, dura, controversa e cheia de gatilhos. Neste enredo, conhecemos Lily, uma jovem moradora de Boston que trabalha com marketing e sonha em abrir o próprio negócio, mas que acabou de passar por uma terrível experiência familiar. E neste contexto, ela conhece Ryle, um neurocirurgião promissor, extremamente ambicioso e com uma estranha aversão a relacionamentos. Ao longo dos capítulos, passamos por uma espécie de imersão, tanto no passado quanto no presente da protagonista, e percebemos que, às vezes, as pessoas que mais amamos são as que mais nos machucam, e que não é possível julgar as escolhas de alguém até se estar no lugar desta pessoa. 

Antes de mais nada, preciso dizer que a temática de “É Assim que Acaba” é pertinente e muito séria, e que a forma como a autora abordou se mostra interessante em alguns aspectos, em especial no que diz respeito ao desfecho. Entretanto, muitas coisas me incomodaram na construção desta narrativa e preciso pontuá-las aqui. Nos primeiros capítulos, a história é escrita de modo a parecer uma “comédia romântica”, com clichês do tipo “mocinha conhece mocinho que não gosta de relacionamentos, mas ele se apaixona por ela e as coisas acabam mudando” e “mocinha tem um amor do passado e o reencontra no presente, quando tudo ia bem em seu novo relacionamento”. Sobre neste ponto, criei a teoria de que a autora quis ironizar as utopias do “romance perfeito” e do “príncipe encantado” através de uma descrição caricata, fazendo com que os leitores enxergassem inúmeras qualidades de um personagem para depois tombá-los com o plot. E do fundo do meu coração espero que esta tenha sido a intenção, pois uma das minhas maiores críticas à trama é a forma como determinados personagens são contextualizados e encontram seu fim.

"Talvez o amor não seja algo que vem no formato de um ciclo completo. Ele apenas flutua, pra dentro e pra fora, assim como as pessoas entrando e saindo das nossas vidas".

Caso você esteja se perguntando, esta é uma história sobre abuso e violência doméstica contra a mulher, e visa chamar a atenção principalmente para o fato de que a vítima nunca deve ser culpada. Juntamente com a personagem afetada, passamos por todas as fases que uma mulher neste tipo de situação pode passar, da surpresa ao medo e pavor, da raiva ao amenizar as atitudes do agressor com desculpas (“mas ele me ama”, “ele não queria e não vai mais fazer isso”, “eu caí”). Admiro a coragem da autora de criar uma trama tão detalhista sobre o assunto, mas determinadas escolhas acabaram minando minha experiência de leitura. Em outras palavras, não adianta criar todo um suporte para dizer que a vítima nunca deve ser culpada enquanto se elabora uma espécie de escape, uma desculpa escondida no passado do agressor de modo a tentar justificar seus atos, e, ainda por cima, apresentar um suposto arco de redenção para um personagem que possui uma relação direta com os abusos sofridos pela protagonista e única narradora. Na minha opinião, é aí que mora o principal defeito de “É Assim Que Acaba”. 

Por outro lado, um ponto forte é que você só descobre o verdadeiro mote do livro após passar por toda a “comédia romântica", e o leitor que começa a ler no escuro (sem ler resenhas, por exemplo), se surpreende ao ver no que essa “sessão da tarde” se transforma. Outra questão que preciso pontuar diz respeito aos personagens secundários ou às margens da trama, como a mãe de Lily, a irmã e o cunhado de Ryle e Atlas, que ora é apresentado como secundário, ora como um terceiro protagonista. Este último foi meu personagem favorito durante todo o enredo (acredito que ele deve ser do signo de câncer, trouxa como eu), mas, apesar de possuir um papel importante, não foi trabalhado de uma forma muito satisfatória. De qualquer modo, o que mais me interessou nele foi a profundidade e o potencial de sua história, além de todo o caminho que percorreu até reaparecer na narrativa. Também achei bacana a ideia da autora de contextualizar o passado da protagonista através da leitura dos “Diários da Ellen”, pois isso trouxe uma nuance diferente e criativa, e até mais envolvente para o que estava sendo apresentado. 


Por fim, apesar desta resenha, sinto que ainda não tenho uma opinião concreta sobre o livro. Como disse ainda no começo, é uma história extremamente controversa e cheia de gatilhos, mas a leitura é recomendada e vale como um grande alerta. Para os leitores, de que a vítima nunca é culpada e do quanto é fácil julgar determinados comportamentos de pessoas em relações abusivas sendo que nunca esteve no lugar delas. Para os escritores, de que não adianta construir um enredo tão intrincado e profundo sobre o assunto, passando a mensagem da não culpabilização da vítima, sendo que o agressor sempre possui uma desculpa. Nada justifica a violência contra a mulher.

Sobre a Editora

Galera Record é um selo do Grupo Editorial Record especialmente criado para o público jovem. No mercado desde 2007, possui três subdivisões - Galera, Galerinha e Galera Record.


Nenhum comentário:

Postar um comentário