Resenha: O Canto dos Segredos

"Essa música não para de tocar no rádio, mas Holly só consegue captar trechos dela. Lembra, ai, lembra de quando nós éramos... uma voz de garota, clara e insistente, com o ritmo leve e rápido fazendo você se descolar do chão, acelerando o seu coração para acompanhar; e depois ela some". 

Sinopse: “Um detetive ambicioso em busca de uma chance de ascender profissionalmente, um homicídio que envolve adolescentes de um prestigiado internato católico de Dublin, uma investigadora durona com fama de poucos amigos. Ganhadora do prêmio Edgar e sensação do romance policial nos últimos tempos, a irlandesa Tana French junta, em “O Canto dos Segredos”, investigação policial, suspense e personagens muito bem construídos para contar uma história apontada como “um triunfo assombroso” pelo The Washington Post. Mais bem-sucedido livro da autora, no ranking do New York Times por semanas, a trama tem início quando a adolescente Holly Mackey procura o detetive Stephen Moran com uma pista sobre o assassinato de um jovem nas dependências do tradicional colégio Sta. Kilda, um ano antes. Para solucionar o caso (e alcançar a posição que almeja na Divisão de Homicídios), Moran trava uma luta surda com a difícil Antoinette Conway, inicialmente encarregada do caso, numa trama que perpassa temas como as relações de amizade e poder, os excessos da juventude, vaidade, lealdade e diferenças sociais”. 

Título: O Canto dos Segredos. 

Autora: Tana French.

Páginas: 608 páginas.

Editora: Rocco. 

ISBN: 9788532529763.

"Ela veio me procurar. A maioria prefere se manter a uma boa distância. Um murmúrio interrompido no disque-denúncia. Foi em 1995 que eu vi, sem nomes, e um clique se você perguntar. Uma carta impressa e postada no correio de outra cidadezinha, com papel e o envelope totalmente limpos, sem digitais. Se quisermos falar com eles, precisamos sair à caça. Mas ela? Foi ela quem veio me procurar". 

Algumas Impressões 

      Eu comentei por aqui na resenha de “Em Um Bosque Muito Escuro” (clique para ler) - que, inclusive está sendo sorteado lá na página do Fleur -, que já faziam alguns anos que eu não dava uma chance para os romances policiais por causa de uma leitura do gênero que fiz e que se mostrou bem insatisfatória. Acontece que a leitura da trama de Ruth Ware me surpreendeu muito e acabei “fazendo as pazes” com o gênero. Então, quando “O Canto dos Segredos” surgiu na News da parceria com a Editora Rocco, não pensei duas vezes e logo solicitei – mesmo sem me atentar ao número de páginas, afinal, o livro é gigante! A narrativa, da irlandesa Tana French, tem como personagens principais a adolescente Holly Mackey, o detetive Stephen Moran e a investigadora Antoinette Conway, e o cenário é nada menos do que um sombrio, misterioso e tradicional internato – um prato cheio para o suspense criado por ela. Concebido como uma espécie de válvula de escape para as privilegiadas e seletas alunas do colégio Sta. Kilda, o “Canto dos segredos” nada mais é do que um enorme quadro de avisos onde as adolescentes podem desabafar e liberar o excesso de sentimentos e pensamentos de uma forma segura – e o mais importante, supervisionada. Até que um bilhete anônimo e misterioso abala as frágeis estruturas de controle ao divulgar a foto de um adolescente morto no ano anterior nos terrenos da escola, juntamente com a legenda: “Eu sei quem matou”. O caso acaba chegando ao conhecimento do detetive Stephen Moran quando uma adolescente que foi testemunha de um antigo caso vê o bilhete no quadro e leva-o até ele, mas a verdadeira responsável por conduzir as investigações do assassinato de Christopher Harper é a investigadora Antoniette Conway. Estacionado no departamento de Casos Não Solucionados, Stephen vê nesta nova evidência a chance de mudar de setor e enfim ocupar uma posição na Homicídios. Juntos, os dois recomeçam a investigação através de uma nova abordagem: apenas dois detetives, conversando com as adolescentes sem chamar a atenção e seguindo uma linha de raciocínio que possa leva-los a alguma solução.

          Observador, Moran tem um diferencial que pode ser determinante para o caso. Ele sabe como ler alguém, como interpretá-la e como agir / reagir de modo que ela se abra – além disso, sabe muito bem como a mente dos adolescentes funciona. Jogando o jogo de acordo com as necessidades - como adulando quem precisa ser adulado ou dando confiança a quem anseia por ela -, ou até mesmo tratando como um adulto quem não suporta ser subestimado. Essa é a estratégia do detetive, afinal, tudo o que ele mais deseja é concluir o caso que está em suas mãos. Alternada entre Moran e quatro internas do colégio, a narrativa permite ao leitor múltiplas visões, o que colabora para que o mesmo crie sua própria investigação, cada vez mais imerso na trama. A visão de Stephen nos permite acompanha-lo desde a chegada do bilhete as suas mãos até as horas e mais horas de trabalho árduo dentro dos muros do internato, e a visão das internas permite versões conflitantes dos eventos ocorridos, iniciando-se oito meses e meio antes do assassinato do jovem Chris. Algo que chamou a minha atenção logo de cara foi a maneira como a autora abordou principalmente a questão do bullying entre os adolescentes, além da necessidade de aceitação, as inseguranças e medos característicos da idade. Conflitante, envolvente e com um enredo extremamente complexo e interessante, “O Canto dos Segredos” é recomendado para os mais diferentes tipos de leitores.

Sobre a Editora Rocco
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