terça-feira, 11 de abril de 2017

Resenha: Quem Era Ela

“As perguntas da ficha de inscrição ficam cada vez mais estranhas. No começo, tento refletir sobre cada uma delas com cuidado, mas há tantas que no fim mal penso nas respostas, marcando-as por instinto (...) A corretora me aconselhou a não alimentar esperanças, pois a maioria dos candidatos não passa dessa fase, mas vou dormir torcendo para passar. Um novo começo. Um reinício. E enquanto pego no sono outra palavra também surge em minha mente. Um renascimento”. 

Sinopse: “É preciso responder a uma série de perguntas, passar por um criterioso processo de seleção e se comprometer a seguir inúmeras regras para morar no n° 1 da Folgate Street, uma casa linda e minimalista, obra-prima da arquitetura em Londres. Mas há um preço a se pagar para viver no lugar perfeito. Mesmo em condições tão peculiares, a casa atrai inúmeros interessados, entre eles Jane, uma mulher que, depois de uma terrível perda, busca um ponto de recomeço. Jane é incapaz de resistir aos encantos da casa, mas pouco depois de se mudar descobre a morte trágica da inquilina anterior. Há muitos segredos por trás daquelas paredes claras e imaculadas. Com tantas regras a cumprir, tantos fatos estranhos acontecendo ao seu redor e uma sensação constante de estar sendo observada, o que parecia um ambiente tranquilo na verdade se mostra ameaçador. Enquanto tenta descobrir quem era aquela mulher que já habitou o mesmo espaço que o seu, Jane vê sua história se entrelaçar à da outra garota e sente que precisa se apressar para descobrir a verdade ou corre o risco de ter o mesmo destino. Com um suspense de tirar o fôlego e um clima de tensão do início ao fim, JP Delaney constrói um thriller brilhante, repleto de reviravoltas até a última página. Uma história de duplicidade, morte e mentiras”. 

Título: Quem Era Ela.
Autor: JP Delaney. 
Páginas: 336 páginas.
Editora: Intrínseca.
ISBN: 978-85-510-0139-4. 

“Já no dia seguinte, chega um e-mail: Seu pedido foi aprovado. Não consigo acreditar, até porque não há mais nada no e-mail: nenhuma explicação sobre quando podemos mudar, nenhum dado bancário deles, nenhuma informação sobre o que devemos fazer. Ligo para Mark, o corretor (...) A ficha começa a cair: conseguimos. Estamos prestes a morar em uma das casas mais incríveis de Londres. Nós. Eu e Simon. Tudo vai ser diferente”. 

Algumas Impressões 

      O que você faria se tivesse a oportunidade de morar em uma das casas mais cobiçadas de Londres? Antes, Emma havia sido assaltada, e os dois delinquentes encapuzados que invadiram seu apartamento enquanto estava sozinha a traumatizaram de uma forma profunda. Buscando um novo – e, o mais importante, seguro – local para morar, ela e o namorado, Simon, visitaram muitos apartamentos até conhecerem uma incrível casa minimalista na Folgate Street, n° 1. Projetada pelo renomado e mundialmente famoso arquiteto Edward Munkford, a residência não parecia tão acolhedora à primeira vista, principalmente por parecer mais um bunker reforçado do que um lar. Inteligente, a moradia ainda possibilitava que o inquilino controlasse suas funções por meio de aplicativos, o que tinha como objetivo garantir um maior conforto e pessoalidade e aperfeiçoar cada vez mais a experiência do usuário. Mas, para usufruir de todas as peculiaridades da casa, havia um custo que, muito além do dinheiro, significava sacrifícios pessoais e disciplina. Os candidatos a inquilinos precisavam preencher um complexo questionário, que, se aprovado, levaria os interessados a uma entrevista pessoal com o construtor. Caso chegassem à última etapa, os futuros moradores ainda deveriam assinar um contrato composto de inúmeras cláusulas e proibições, capazes de mudar os hábitos e até mesmo o destino de qualquer um. O que ninguém poderia imaginar, é que aquela casa peculiar no início de uma rua em um tranquilo bairro de Londres poderia se tornar o cenário de tantas mortes e mistérios, marcando e unindo para sempre as vidas de tantas pessoas. As vezes a repercussão de nossos atos vai muito além do que imaginamos. Agora, Jane é alguém que definitivamente precisa de um recomeço. Após os nove meses de gravidez, sua filha, Isabel, nasceu morta. Sentindo-se sozinha e perdida, sem ninguém a quem recorrer ou com quem dividir sua dor, só o que ela precisa é de um novo lugar para morar, um espaço onde pudesse recomeçar. Mas, com os altos preços dos aluguéis na cidade, o único local que cabia em seu orçamento era Folgate Street, n° 1, já que as muitas condições para se morar na casa reduziam o custo do aluguel para o inquilino. Aprovada na fase inicial, desde que fora entrevistada pelo misterioso arquiteto Edward Monkford, Jane se sentiu completamente atraída por ele, meticuloso, perfeccionista e nada parecido com nenhum homem que ela já havia conhecido. Controlador e pragmático, Edward deixa claro que não quer se comprometer em um relacionamento, mas mesmo assim Jane aceita suas imposições e os dois passam a ter um caso descompromissado e cheio de particularidades. Quando Jane descobre que Emma, a inquilina anterior e que morrera dentro da casa, também havia namorado o arquiteto, ela decide investigar por conta própria o que realmente aconteceu, e, na tentativa de desvendar o culpado, o clima de suspense e perigo só aumenta. Afinal, quem era a mulher que habitou o mesmo espaço que ela e como ela morreu? Jane precisa desesperadamente responder a estas perguntas antes que tenha o mesmo destino.

“O que eu disse para Mia é verdade: no pouco tempo desde que moro aqui, nunca achei Folgate Street, n° 1 um lugar assustador. Mas agora o silencia e o vazio parecem assumir um tom mais sinistro. Ridículo, claro, como sentir medo depois de ouvir uma história de terror. Mesmo assim, configuro a luz mais brilhante e dou uma volta para verificar.... o quê? Nenhum intruso, obviamente. Mas, por algum motivo, a casa já não me parece tão protetora. Tenho a sensação de estar sendo observada”. 

        “Quem era ela”, o novo thriller publicado pela Editora Intrínseca, chegou até mim de uma forma inusitada e muito interessante. Com uma proposta diferente, e à exemplo das personagens do livro, os parceiros tiveram de responder a um questionário com perguntas retiradas do livro, e aqueles que ousaram embarcar neste processo receberam o exemplar em uma embalagem toda especial. Trazendo breves dizeres sobre o antes e depois da narrativa, a caixa contribuiu para criar um clima de mistério e suspense ao redor do título, que, preciso dizer, não me decepcionou em nenhum momento. Desde que conheci a obra da maravilhosa Gillian Flynn, também através da Intrínseca, fiquei viciada em thrillers, e mesmo tendo lido outros muito bons recentemente, como “Eu estou pensando em acabar com tudo” (clique para ler a resenha), nenhum havia me conquistado tanto quanto este. A narrativa envolve o leitor ainda na premissa, e mantém o domínio ao longo das páginas, uma vez que é absolutamente impossível largar as páginas. Com uma narrativa fluida e em primeira pessoa, o texto é intercalado entre as duas protagonistas, Emma e Jane, mostrando trechos do passado e do presente à medida que constrói a trama. É impressionante como, de maneira complementar, é possível unir e separar peças no gigantesco quebra-cabeças que acaba se formando através das histórias contadas pelas personagens, e as reviravoltas que se apresentam. A cada capítulo, um fato novo é acrescentado à teia de suposições, e é praticamente impossível não criar teorias sobre quem era ela (Emma) e o que pode acontecer a Jane caso ela não descubra logo como Emma morreu. Estaria o minucioso e pragmático Edward envolvido? Um traço interessante da construção narrativa de JP Delaney é que em nenhum momento ele nos entrega quem está falando a verdade. Os fatos possuem várias versões diferentes, e é palpável a forma como a linha de raciocínio de Jane – e também de Emma – toma um rumo diferente à medida que a trama se desenrola, afinal, o autor revela os segredos dos personagens em doses homeopáticas, levando o leitor a tomar um rumo diferente também e a se surpreender quando o desfecho é revelado (um artifício que me lembrou muito “Garota Exemplar” e “Lugares Escuros”). O trabalho de pesquisa feito por Delaney para escrever este livro também merece destaque, afinal, poucos são os autores que conseguem trazer assuntos com tanta propriedade em suas obras, como a terapia EMDR, os transtornos mentais de caráter compulsivo, as minucias da gravidez e os exames gestacionais mais complexos, e claro, todas as informações sobre arquitetura e a tecnologia aplicada à construção de casas inteligentes. Misturando ação, suspense e investigação criminal, “Quem era ela” ainda traz à tona temáticas como perda, a necessidade de recomeçar deixando o passado para trás, a grande dificuldade que alguns têm de se relacionar com outras pessoas e um modo de viver extremamente minimalista, inteligente e sustentável. Então, se você está procurando uma leitura de tirar o fôlego e que possivelmente vai instaurar uma ressaca literária absurda na sua vida – mas que vai valer muito a pena – essa é uma leitura mais do que recomendada. E ainda, se você não é fã de thrillers, mesmo assim acredito que deveria dar uma chance para esta obra, afinal, ela pode te surpreender de formas que você não tem como imaginar.


Sobre a Intrínseca
Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.


2 comentários:

  1. Esse livro acabou pegando os leitores de surpresa, né? Ele não teve divulgação e logo que foi lançado conquistou um punhado de gente. Quero ler, apesar de não ser muito fã de thrillers, acho que vou gostar da história ♥

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    1. Gente, nem me fale. Foi uma divulgação meio sombria com o objetivo de causar esse impacto mesmo! A história é muito boa, me prendeu e eu fiquei surpresa com o desfecho! Um beijo :*

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