segunda-feira, 1 de maio de 2017

Resenha: Matéria Escura


“Não há avisos quando tudo está prestes a mudar, a ser tomado de você. Nenhum alerta de proximidade, nenhuma placa indicando a beira do precipício. E talvez seja isso o que torna a tragédia tão trágica. Não é apenas o que acontece, mas como acontece: um soco que vem do nada, quando você menos espera. Não dá tempo de se esquivar ou se proteger”.

Sinopse: “Você é feliz com a vida que tem? Essas são as últimas palavras que Jason Dessen ouve antes de acordo num laboratório, preso a uma maca, cercado por estranhos. Antes de um homem sorrir e dizer: “Bem-vindo de volta, meu amigo”. Nesse lugar, Jason ainda é Jason, mas sua vida se foi. Ou talvez sua vida anterior não fosse real, apenas lembranças de um sonho, devaneio. Ele é o professor frustrado ou o cientista brilhante? O homem que se dedicou à família ou o que revolucionou a física? Em que momento sua história tomou uma dessas direções, e qual? Às vezes, a resposta pode estar bem na sua frente. Você pode senti-la, percebê-la, mas jamais provar que ela existe. Do criador de Wayward Pines, Matéria Escura é um thriller sci-fi de premissa genial e profundamente humano sobre escolhas, caminhos não percorridos e a busca pela vida que queremos”. 

Título: Matéria Escura.
Autor: Blake Crouch.
Páginas: 352 páginas.
Editora: Intrínseca.
ISBN: 978-85-510-0122-6. 


“A física experimental – a ciência como um todo, na verdade – consiste em solucionar problemas, mas não se pode solucionar todos de uma vez. Sempre existe uma questão maior, mais abrangente: o grande objetivo. O problema é que, se você fica obcecado pela enormidade desse objetivo, acaba perdendo o foco. O segredo é começar pequeno. Resolver primeiro os problemas que dá para responder. Construir uma base firme sobre a qual pisar”.

Algumas Impressões 

     Às vezes, quando pegamos para ler um livro que aborda determinado assunto que não dominamos, a leitura pode se mostrar desafiadora. Por outro lado, ela abre portas para conhecimentos novos e interessantes, com enredos capazes de nos conquistar e prender a atenção de formas únicas, até a última página. “Matéria Escura”, primeiro romance do autor Blake Crouch publicado pela Editora Intrínseca, é um belo exemplo do que estou dizendo. Blake é roteirista e autor da trilogia Wayward Pines (adaptada para uma série de televisão exibida pelo canal FOX), e, neste livro - que chegou por aqui através da parceria do Fleur com a editora -, traz uma trama complexa e intrincada, que aborda questões como a física quântica, os conceitos de percepção da realidade, caminhos não percorridos, as escolhas que fazemos em nossas vidas e também o amor. A obra narra a história de Jason Dessen, um professor universitário que, após ser sequestrado, acorda em um laboratório preso a uma maca e cercado de pessoas estranhas que acreditam conhecê-lo de longa data. Neste lugar, ele ainda é Jason, porém sua vida não é a mesma. Enquanto no mundo do qual se lembra e afirma pertencer ele é apenas um professor que teve as ambições científicas frustradas após escolher se dedicar à família, aqui ele é um cientista brilhante, que deu prosseguimento à sua pesquisa e revolucionou a história da humanidade com a descoberta resultante. Mas afinal, qual destas será a realidade? Será que sua vida, a vida da qual se lembra, foi apenas um devaneio? Ou será que o devaneio é o que está vivendo agora? Será que podemos chamar alguma coisa de realidade? Em que momento sua história tomou um destes rumos, onde a trama de sua vida se dividiu? Ele precisa responder a estas perguntas e descobrir o que afinal está acontecendo se deseja voltar para sua esposa e seu filho – se é que um dia eles já existiram.


“Estamos apenas vagando através da tundra de nossa existência, atribuindo valor ao inútil, quando tudo que amamos e odiamos, tudo em que acreditamos e pelo que lutamos, matamos e morremos é tão sem sentido quanto imagens projetadas sobre acrílico”. 

         “Matéria Escura” é uma daquelas histórias que cria um nó bem apertado até mesmo na mente do leitor mais atento, e que nos leva a questionar princípios básicos nos quais acreditamos, como o que é real e o que não é. Através da perspectiva de Jason, é possível acompanhar toda a construção da narrativa, com as dúvidas e descobertas do personagem principal tornando-se nossas próprias a cada novo capítulo. Em muitos momentos duvidei do que estava escrito, formulei e reformulei teorias, e por mais que tenha desvendado parte do mistério, o desfecho revelou que só cheguei à uma conclusão ínfima diante da magnitude do que a história é capaz de entregar. Com mais de um plot twist, Blake Crouch entrega uma trama emocionante, alucinante e arrebatadora, em um ritmo constante, linear e envolvente, contido em pouco mais de trezentas páginas. Além de toda a surpresa proporcionada pelo enredo em si, achei extremamente interessantes os assuntos abordados pelo autor e a forma como ele os desenvolveu dentro da narrativa, como, por exemplo, a discussão acerca das escolhas de vida e da possibilidade de várias realidades estarem se desenrolando ao mesmo tempo, oriundas destas mesmas escolhas, que acabam bifurcando as histórias de nossas vidas em tantas outras histórias paralelas – e de nossa incapacidade de enxergá-las, continuando limitados à que escolhemos seguir em determinado momento. Blake aborda conceitos de física quântica (como a famigerada superexposição e a chamada matéria escura) e neurociência, e por mais que se trate de uma obra de ficção, admiro muito o trabalho de pesquisa desenvolvido pelo autor para criar essa história, que despertou minha curiosidade para pesquisar mais sobre estes temas. É uma história mais do que recomendada se você, assim como eu, não dispensa uma boa trama de ficção científica, que ainda por cima é cheia de suspense, mistérios e aventura. Ou seja, o combo perfeito para uma leitura que promete ficar na memória muito tempo depois que a última palavra é lida. Vivemos cheios de perguntas, e às vezes a resposta pode estar bem na nossa frente. Podemos senti-la, percebê-la, mas jamais provar que ela existe.

Sobre a Intrínseca
Uma editora jovem, não só na idade – afinal foi fundada em dezembro de 2003 – mas no espírito inovador de optar pela publicação de ficção e não ficção priorizando a qualidade, e não a quantidade de lançamentos. Essa é a marca da Intrínseca, cujo catálogo reúne títulos cuidadosamente selecionados, dotados de uma vocação rara: conjugar valor literário e sucesso comercial.


2 comentários:

  1. Nossa que história incrível! Eu gosto muito desses livros (e também filmes) que mexe com a gente dessa maneira! Sem contar que a edição incrível, né? Eles capricharam!
    Entrou pra minha wishlist <3
    Colorindo Nuvens

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    1. SIM! Minha cabeça praticamente explodiu com essa história hahaha Eu fiquei um tempão refletindo sobre as páginas e pensando nos temas. Também gosto bastante desse tipo de livro, e a edição da Intrínseca está incrível! <3 Um beijo!

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