segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Resenha: Comportamento Altamente Ilógico

“Solomon não precisava sair de casa para nada, afinal. Tinha comida. Tinha água. Podia ver as montanhas da janela do quarto, e seus pais estavam sempre tão ocupados que ele atuava, a maior parte do tempo, como o chefe da casa. Jason e Valerie Reed deixavam que fosse assim porque, na atual condição do filho, perceberam que essa era a única maneira de fazer com que o garoto se sentisse melhor. Então, no seu aniversário de dezesseis anos, ele completou três anos, dois meses e um dia sem que saísse de casa”. 

Sinopse: “Solomon tem 16 anos e é bem mais retraído que um adolescente normal... ele não sai de casa desde os 13. Lisa é uma garota ambiciosa e seu sonho é ser aluna do segundo melhor curso de psicologia do país (ela é realista). E quer provar que merece ser aceita. Solomon vai ser a prova. Determinada a “ajudá-lo” a lidar com a agorafobia, Lisa encontra um jeito de se aproximar de Solomon, trazendo a tiracolo o seu encantador namorado, Clark. Logo, os três formam laços inesperados de amizade. Porém, à medida que Lisa passa a conhecer Sol melhor e que ele e Clark se tornam cada vez mais próximos, as muralhas que eles construíram em torno de si mesmos começam a ruir – e a amizade entre os três ameaça seguir pelo mesmo caminho. Divertido e comovente, Comportamento altamente ilógico apresenta as diferentes maneiras com as quais um jovem lida com os reveses e as inquietudes do seu cotidiano – e como o amor, a tragédia e a necessidade de conexão podem ajudá-lo a lutar contra o medo e a encarar a vida adulta”. 

Título: Comportamento Altamente Ilógico.
Autor: John Corey Whaley. 
Páginas: 250 páginas.
Editora: Rocco Jovens Leitores. 
ISBN: 978-85-7980-348-2.

“Seus ataques de pânico começaram aos onze anos, mas nos últimos dois anos as crises se tornaram mais frequentes e intensas – primeiro aconteciam de mês em mês, depois a cada quinze dias. Na época em que ele entrou na fonte como um lunático, estava sofrendo até três ataques severos de pânico por dia. Era um inferno”. 

Algumas Impressões 

Da mesma forma que os livros nos levam a lugares que, de outra forma, talvez nunca fôssemos conhecer, as histórias também levantam discussões importantes, e que precisam de atenção. Ainda na última semana publiquei a resenha de “Eu sei onde você está”, que coloca em pauta temas como abuso e assédio (clique para ler), e hoje venho falar sobre “Comportamento Altamente Ilógico”, que chegou por aqui através da parceria com a Editora Rocco, e fala sobre determinados transtornos e problemas enfrentados pelos jovens. Na trama, conhecemos os adolescentes Solomon, Lisa e Clark. Sol tem 16 anos, e, desde os 13, depois de sofrer um severo ataque de pânico, o garoto não sai de casa. Já Lisa Praytor é uma garota muito estudiosa (daquelas que ficam até mais tarde na escola para conseguir créditos extras, fazem trabalho voluntário, etc) e dedicada ao seu objetivo: cursar psicologia no segundo melhor curso do país (já que ela é, acima de tudo, realista). Desde que viu Sol ter um ataque há alguns anos, ela vive com a certeza de que pode ajudá-lo, e, três anos depois do incidente e cursando o penúltimo ano do ensino médio, Lisa resolve usar o caso de Solomon como base para a redação que precisa escrever sobre sua experiência pessoal com doenças mentais, uma espécie de requisito para que possa entrar na universidade. À medida que o tempo vai passando, Lisa, Sol e Clark, o adorável namorado da garota, criam um vínculo de amizade que desafia os muros que Solomon havia criado ao seu redor. Abordando questões como a sexualidade, o que estar em acordo consigo mesmo e os limites imaginários impostos para que possamos conquistar o que queremos - além, é claro, das doenças mentais em si -, “Comportamento Altamente Ilógico” é uma história sobre amizade, aceitação e limites. 

“A vida às vezes simplesmente lhe entrega a limonada pronta, num copo geladinho com uma rodela de limão na borda. Para Lisa Praytor, uma aluna do penúltimo ano do ensino médio que só tirava A na Upland High, conhecer a mãe de Solomon Reed foi esse copo de limonada. E isso mudaria sua vida (...) Sempre foi do tipo que tinha a agenda lotada e, aos onze anos, escolheu viver de acordo com os conselhos da sua tia-avó Dolores, que sempre dizia: “Nenhum dia do seu calendário deve estar vazio. Isso dá azar. São vinte e quatro horas de oportunidades perdidas”. 

Com um ritmo fluído, a trama é narrada na terceira pessoa, intercalando os pontos de vista de Solomon e Lisa. Não pude deixar de sentir que Clark é deixado para escanteio a maior parte da história, mesmo que seja um personagem relevante e que, com toda a certeza, merecia um ponto de vista exclusivo. A forma como o autor aborda as doenças mentais – que ainda são alvo de muitos preconceitos da sociedade -, é extremamente realista, uma vez que ele não faz uso de falso moralismo ou mesmo alegorias para abordar a doença (como as famosas soluções simples demais para problemas muito complexos). Apesar dos pesares, Solomon está confortável e até satisfeito com sua vida dentro de casa, mas, quando Lisa e Clark aparecem tudo muda, e ele percebe que existem limites os quais consegue enfrentar (afinal, nunca saberemos se não tentarmos, não é mesmo?) Foi uma leitura rápida e interessante, quase como uma espécie de experiência de imersão na mente de um jovem que vive com tantos conflitos. As várias referências a elementos da cultura nerd e o contraste das cenas tensas com as mais divertidas também me chamou bastante a atenção. John Corey Whaley fez um trabalho excelente com este livro, pois, é de extrema importância que as doenças mentais sejam cada vez mais discutidas. Vivemos em uma época que conserva muitos preconceitos, tabus e olhares sobre as doenças mentais que de nada contribuem para uma discussão cada vez mais necessária. Já li outros livros sobre o assunto, como "O Herói Improvável da Sala 13B" e, mais recentemente, "Veronika Decide Morrer", e essa discussão precisa ser levada à outro nível. Pois, enquanto não nos informamos, as pessoas que possuem os transtornos sofrem com a ignorância dos outros. Precisamos saber o real significado dos problemas, e, o mais importante, como ajudar alguém nestas condições. A leitura é leve, por mais que trate de temas tão complexos, e, apesar dos possíveis gatilhos que possa despertar, é um livro mais do que recomendado.

Sobre a Editora Rocco
Há mais de três décadas demonstrando sensibilidade para detectar as tendências do mercado, ousadia na difusão de novas ideias e agilidade de produção, a Rocco se orgulha por ser uma editora sólida e independente, capaz de se reinventar a cada dia para atender aos anseios do público brasileiro. Seus selos são: Rocco, Rocco Jovens Leitores, Rocco Digital, Bicicleta Amarela, Fábrica 231, Fantástica Rocco, Anfiteatro e Rocco Pequenos Leitores.


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